Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade
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Dois personagens de destaque – Joe McAndrew e Robert Dixon –<br />
que, embora importantes para o desenrolar da trama, são fictícios<br />
(GRENIER, 1999, p. 319), são interpolações feitas pelo cineasta. McAndrew<br />
é ativista do IRA e, dentre inúmeros atos terroristas, confessa ser o<br />
responsável pelos atentados a Guildford, e Dixon é o oficial britânico<br />
responsável pelas investigações do caso.<br />
A criação desses dois personagens pode ser justificada pela<br />
preocupação com questões legais uma vez que, se fosse usado o nome real<br />
dos policiais e/ou dos que assumiram a culpa pelos atentados, mesmo que<br />
esses nomes tenham sido divulgados pela imprensa, essas pessoas poderiam,<br />
eventualmente, processar os idealizadores do filme. Em relação a essa<br />
questão, Seger (2007, p. 220-221) explica que as fontes de domínio público,<br />
ou seja, o material publicado pela imprensa e os documentos legais de<br />
julgamento podem ser usados como fonte de informação para a adaptação.<br />
Todavia, ressalta ela, isso não garante que não haja processo por parte da<br />
pessoa retratada, caso ela ou seu representante legal entendam que haja<br />
motivo para tal. Dessa forma, a opção pela ficção constitui-se a solução<br />
para o problema. Qualquer que seja a razão para o uso da ficção em relação<br />
a esses dois personagens, não se pode deixar de constatar que cada um deles<br />
retrata um lado da questão do conflito entre Inglaterra e Irlanda do Norte.<br />
Dixon representa a força policial que foi enviada para a Irlanda do<br />
Norte, na década de 70, com o objetivo de conter os movimentos<br />
revolucionários pela independência do país, utilizando os meios que fossem<br />
necessários. Os registros históricos relatam que a atuação da força policial<br />
inglesa não foi pacificadora, pelo contrário, as ordens eram para conter as<br />
rebeliões, concedendo aos policiais, inclusive, maior poder de ação<br />
(COHILL, 2009; McCAFREY, 2006).<br />
McAndrew representa o Exército Republicano Irlandês (IRA), uma<br />
organização paramilitar criada para lutar pela independência da Irlanda do<br />
Norte, que encontrou na prática terrorista um meio para se firmar<br />
politicamente, como já mencionado (COOGAN, 2009; ENGLISH, 2003).<br />
As ações de McAndrew na prisão, dentre elas atear fogo em um policial,<br />
não são diferentes das relatadas pela mídia da época. A edição do The Irish<br />
Times, do dia 18 de maio de 1974, cinco meses antes do atentado cometido<br />
em Guildford, contém notícias sobre o atentado que matou 27 pessoas e<br />
deixou mais de 100 feridos em um atentado à bomba em Dublin, Irlanda.<br />
Dentre as vítimas, na sua maioria civis, havia mulheres e crianças, sendo que<br />
<strong>Scripta</strong> <strong>Uniandrade</strong>, v. 9, n. 2, jul.-dez. 2011<br />
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