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Guardiola Confidencial - Marti Perarnau-1

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grandes conflitos do esporte, desde tempos imemoriais, reside na linguagem que<br />

os técnicos usam quando pretendem transmitir suas mensagens aos esportistas.<br />

Somente técnicos muito privilegiados ou experientes alcançam um nível de<br />

comunicação verbal e gestual capaz de transmitir com precisão a ideia desejada.<br />

Em algumas ocasiões, devem ser palavras sofisticadas; em outras, muito básicas.<br />

Torna-se imprescindível acertar na forma, no conteúdo, no volume e no<br />

momento exato para cada mensagem e cada receptor. Para um treinador, é<br />

fundamental acertar no tom para desenvolver ideias técnico-táticas com seus<br />

atletas.<br />

<strong>Guardiola</strong> tem um problema nesse ponto: é muito hábil para projetar<br />

mentalmente seu mapa do tesouro, seu “plano de negócios”, ou seja, para definir<br />

todos os enfoques táticos, individuais e coletivos que pretende aplicar ao longo de<br />

um determinado período. Tem uma percepção especial para saber até onde pode<br />

chegar no trimestre ou na temporada, além de quais ideias ou movimentos<br />

deverá manter em espera até o ciclo seguinte, quando a equipe tiver<br />

amadurecido. Se repassam com Pep a história de seus quatro anos no Barça, ele<br />

se lembrará de cada uma das evoluções da equipe e também do que realizaria se<br />

tivesse continuado no clube catalão. Mas, quando lhe perguntam sobre o Bay ern,<br />

ele é mais reservado e explica somente os movimentos de curto prazo: “nesta<br />

temporada faremos isto e aquilo”, ele diz, mas se cala quando perguntamos sobre<br />

o ano seguinte. Apesar de já saber como será.<br />

Ainda que as ideias sejam claras, <strong>Guardiola</strong> tem dificuldades para transmitilas<br />

aos jogadores. Não é um problema de linguagem, tampouco de idioma<br />

futebolístico. É um problema de excesso de software. Às vezes, quer dizer tantas<br />

coisas, chegar a detalhes tão pequenos, que alguns atletas não conseguem<br />

acompanhá-lo. Nesses casos, insiste teimosamente e demora algum tempo para<br />

se dar conta de que o jogador em questão precisa, muitas vezes, de bem menos<br />

mensagens e de algo muito mais simples.<br />

Vamos dar um exemplo: Franck Ribéry, um atleta que poderíamos comparar a<br />

um velocista de cem metros rasos por seus padrões de compreensão e<br />

comportamento. Se você sofisticar a mensagem para Ribéry, na verdade estará<br />

complicando as coisas. <strong>Guardiola</strong> levou meses para encontrar a modulação exata<br />

de suas palavras com ele. Já no primeiro treino falou com o atleta francês sobre<br />

jogar por dentro ocupando o espaço do falso 9, pois está convencido de que<br />

Ribéry pode ser ainda mais perigoso se fizer no meio o que costuma fazer na<br />

ponta. No meio, ele não tem uma linha de cal limitando-o e, logicamente,<br />

contará com mais espaço para se movimentar e driblar. Pep acredita piamente<br />

que o jogador pode fazer grande diferença atuando por dentro. Mas Ribéry<br />

precisa de tempo para amadurecer e absorver os movimentos que o treinador lhe<br />

explica. São muito complexos para uma assimilação rápida; por isso, Pep

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