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Guardiola Confidencial - Marti Perarnau-1

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primeiro escanteio e a primeira falta lateral que a equipe terá durante o jogo.<br />

Mas a preleção pode conter também elementos de motivação. Por exemplo, na<br />

partida de volta das quartas de final da Champions contra o Manchester United,<br />

no início de abril, <strong>Guardiola</strong> prescindiu dessa terceira conversa porque o time,<br />

dessa vez, já conhecia a escalação desde o dia anterior, havia ensaiado o jogo de<br />

ataque e não era preciso acrescentar qualquer comentário. Em outro momento,<br />

no reinício da Bundesliga, em 24 de janeiro, o time chegou ao Borussia Park de<br />

Mönchengladbach com atraso, porque Pep se estendera demais nessa última<br />

preleção, mostrando a seus homens as razões pelas quais haviam sido<br />

massacrados seis dias antes em um amistoso em Salzburgo (derrota por 3 a 0):<br />

tinham jogado sem correr, sem a menor intensidade. “Eu só chego até aqui”,<br />

disse-lhes. “Posso distribuí-los taticamente da melhor maneira e analisar o rival.<br />

Por exemplo, David [Alaba], no jogo de hoje não suba muito, porque o pontadireita<br />

do Stuttgart [<strong>Marti</strong>n Harnik] pode castigá-lo. Mas, a partir desse ponto,<br />

rapazes, os responsáveis são vocês. Se não jogarem com intensidade e correndo<br />

como loucos, não ganharemos…” O Bay ern venceu aquela partida contra o<br />

Gladbach por 2 a 0, realizando uma verdadeira exibição e projetando-se de<br />

modo definitivo para a conquista do título.<br />

O conteúdo das três palestras é fruto de duas análises pormenorizadas: a do<br />

adversário e a da própria equipe e, ao mesmo tempo, obedece a uma das<br />

características fundamentais de <strong>Guardiola</strong>, como explica Xavier Sala i Martín,<br />

professor de economia da Universidade Columbia: a inovação. “No meu ponto<br />

de vista, Pep é um grande inovador. Vence através da análise meticulosa do ponto<br />

fraco do rival, onde o ataca. Mas, principalmente, é capaz de continuar inovando<br />

de maneira constante: ainda que os adversários aprendam a lição e se corrijam,<br />

<strong>Guardiola</strong> volta a implementar sua ideia de jogo com novas variantes. Ele<br />

sempre está à frente. É capaz de manter sua própria filosofia de jogo, que se<br />

baseia em conseguir de forma permanente a superioridade no meio de campo,<br />

alcançando-a ao se adaptar às características do oponente.”<br />

Comentando o modo de atacar os adversários no xadrez ou em qualquer outro<br />

esporte, Garry Kasparov disse a <strong>Guardiola</strong>, em Nova York, em outubro de 2012:<br />

“Você não pode atacar do mesmo modo quando está no alto de uma montanha<br />

ou numa planície em campo aberto”. Na mesma cidade, Ferran Adrià, o gênio<br />

da gastronomia que acabava de fechar seu restaurante El Bulli, também jantou<br />

com <strong>Guardiola</strong> no final de 2012 e lhe disse: “Pep, mais que um técnico, você é<br />

um grande inovador”. O treinador respondeu: “Olha, Ferran, a única coisa que eu<br />

faço é assistir a vídeos do adversário e tentar massacrá-lo. [Na verdade, usou<br />

uma frase muito mais prosaica e obscena.] A única coisa que faço é estudar<br />

todas as minhas armas e mudá-las todas as vezes”.<br />

Para Sala i Martín, essa vocação inovadora de <strong>Guardiola</strong> se combina à

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