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Guardiola Confidencial - Marti Perarnau-1

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terminou o treino vomitando por conta do cansaço e hoje se exige dele<br />

concentração total. Pep enche o gramado de marcações e sinais para que a<br />

defesa saiba por onde se movimentar. Visto de fora, o exercício faz lembrar uma<br />

coreografia em que os bailarinos se movem para cobrir a posição do<br />

companheiro que avança para marcar. Depois, todos retomam o posicionamento<br />

inicial e devem manter uma distância ideal do vizinho. Mas não há nada de balé.<br />

Muito embora estejam exaustos pelo esforço e pela concentração, ao final da<br />

aula os atletas pedem licença a <strong>Guardiola</strong> para correr um pouco em um morro<br />

próximo. O técnico brinca comigo: “Diga-me, você que conhece atletismo, serve<br />

para alguma coisa essa corrida contínua, além de fazer mal para as costas?”. Ele<br />

ri e prossegue: “Quando voltarem, acreditarão que treinaram pesado, porque<br />

correram quinze minutos. Mas é um efeito placebo. Eles acham que os<br />

exercícios de posição e conservação não exigem da parte física”.<br />

O técnico, na realidade, brinca com coisa séria: o tipo de treinamento que<br />

adota é condicionado pelos seus princípios de jogo e sempre, sempre, possui<br />

características técnico-táticas. São treinos que não se limitam a trabalhar o físico.<br />

Que não incluem tiros de velocidade ou de resistência nem sessões de<br />

levantamento de peso. Compreendem somente atividades físicas pontuais para<br />

melhorar as condições de algum atleta que esteja voltando de uma lesão. Ao lado<br />

de <strong>Guardiola</strong>, Lorenzo Buenaventura explica: “No início eles ficaram surpresos<br />

por não fazermos séries de mil metros de corrida, ainda que o Bay ern já fosse<br />

menos alemão, o menos clássico dos [times] alemães. Eles já faziam trabalhos<br />

com bola e estavam acostumados à dinâmica dos dois jogos por semana, em que<br />

não há margem para muito treino físico e é preciso fazer trabalhos mais curtos e<br />

de qualidade”.<br />

O preparador físico do Bay ern diz que, na sua visão, o trabalho de<br />

embasamento técnico supera qualquer outro tipo de atividade: “No que diz<br />

respeito ao volume e à intensidade, não acho que exista grande diferença entre o<br />

nosso método e os outros. A maior diferença de tempo de permanência no<br />

campo será de apenas dez ou quinze minutos a menos da nossa parte,<br />

principalmente se considerarmos o trabalho de prevenção feito na academia.<br />

Optamos pela qualidade em detrimento da quantidade, realizamos mais<br />

atividades de qualidade em vez de trabalhos físicos prolongados. Foi isso que<br />

chamou a atenção deles, além da altíssima porcentagem de trabalho com bola.<br />

De fato, não fazemos nada sem bola, somente alguns treinos de recuperação e<br />

trabalhos específicos para recondicionar algum jogador”.<br />

Os defensores voltam, empapados de suor depois de correr quinze minutos em<br />

bom ritmo. As expressões são de satisfação. <strong>Guardiola</strong> dá tapas nas costas deles e<br />

cascudos nas cabeças dos mais jovens. Entra no vestiário e continua zombando<br />

do grupo. Gira e pisca um olho: “Efeito placebo!”.

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