11.07.2017 Views

Guardiola Confidencial - Marti Perarnau-1

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

isso. Normalmente, <strong>Guardiola</strong> chega ao restaurante do time e abraça os filhos,<br />

Valentina, Màrius e Maria. Enche-os de beijos e afagos e em seguida abraça<br />

Cristina, sua esposa, e passa alguns minutos falando com ela. Mas logo chegam<br />

amigos e conhecidos, ou familiares dos atletas que querem uma foto com ele ou<br />

então cumprimentá-lo, e Pep entende que não pode compartilhar o momento<br />

plenamente com a família, passando a se dedicar aos compromissos profissionais<br />

enquanto janta ao lado de Estiarte ou Torrent. Somente mais tarde poderá ficar<br />

mais à vontade.<br />

Hoje não. Hoje, ele se senta com Cristina e em vez de champanhe pede uma<br />

taça de vinho tinto. Sentado na mesa ao lado tenho a impressão de que Pep<br />

precisa de um momento de intimidade para digerir a conjuntura ruim a sós com<br />

sua companheira. Como se fosse imprescindível para ele guardar luto pela<br />

derrota, ter alguns minutos de recolhimento, mais pessoais que futebolísticos,<br />

antes de voltar a ligar o motor.<br />

Durante meia hora, ninguém se aproxima da mesa de <strong>Guardiola</strong>, como se<br />

todos os presentes tivessem tomado consciência de que o técnico precisava de<br />

alguns instantes de recolhimento. Pouco depois, são os próprios filhos que<br />

rompem a introspecção de Pep para informá-lo de que o Barça perdeu em<br />

Granada e talvez tenha deixado escapar a chance de defender o título da liga<br />

espanhola. Resta pouca gente no restaurante. Arjen Robben, irritado, explica suas<br />

sensações depois da derrota: o time tem que voltar a lutar com fome se quiser<br />

chegar à final da Champions. <strong>Guardiola</strong> fechou o parêntese e, taça de vinho à<br />

mão, muda de mesa e volta a ser aquele Pep enérgico e entusiasta, como se<br />

Cristina houvesse recarregado sua bateria: “Eu errei”. Acho que ele está se<br />

referindo a alguma questão tática, mas não. Fala do modo de administrar o<br />

sucesso: “A 95 por cento, ninguém é nada. Nem eu. Não é ser falso humilde,<br />

nada disso. Eu também não sou nada se não usar todas as minhas forças. Ouça o<br />

que digo: eu não me sinto um bom técnico. Sei que é difícil acreditar, que as<br />

pessoas pensam que é falsa humildade, mas é o que sinto de verdade: eu hesito<br />

muito, duvido de tudo e não tenho certeza de nada. Mas sei que uma coisa é<br />

certa: eu errei. Acreditamos que éramos os melhores e desde Berlim [quando<br />

ganharam a Bundesliga] nós caímos. Mas não de um jeito qualquer. Nós<br />

despencamos”.<br />

Màrius e Maria aproximam-se da nossa mesa e escutam o pai com atenção.<br />

De vez em quando o interrompem para perguntar sobre algum pequeno detalhe,<br />

mas <strong>Guardiola</strong> segue com seu discurso: “Olha, o elogio enfraquece. Acontece<br />

com todo mundo. Depois de Berlim eu fiquei frouxo. Me pediram para não<br />

treinar no dia seguinte e eu aceitei. Para evitar lesões deixei de fazer treinos com<br />

jogos de onze contra onze e nos demos mal. Quis proteger os jogadores de<br />

qualquer lesão e só consegui afrouxá-los. E frouxos nós não somos ninguém. Isso

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!