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Guardiola Confidencial - Marti Perarnau-1

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Momento 12<br />

A desconstrução como método criativo<br />

“Para criar, precisamos de liberdade, pressão e risco.”<br />

Arco, 9 de julho de 2013<br />

Foi o famoso cozinheiro catalão Ferran Adrià que, ao fechar o El Bulli, seu<br />

conhecidíssimo restaurante, ofereceu esta receita sobre a criatividade. <strong>Guardiola</strong><br />

nunca se considerou um gênio criativo, um inventor. Vê-se mais como um<br />

“ladrão de ideias”: alguém que quando era jogador experimentou, mas sobretudo<br />

aprendeu; e que, ao se transformar em técnico, continuou aprendendo. Já no topo<br />

como treinador, Pep seguiu convencido de que ainda restava muito por descobrir<br />

e passou a estudar aquilo que os melhores vinham fazendo. “As ideias são de todo<br />

mundo. Eu roubei o máximo possível”, diz.<br />

Suas influências? Todas as que se pode imaginar. Cruyff, é claro, é uma delas.<br />

Mas Sacchi também. Além de visões bastante opostas do jogo, como as de<br />

Menotti e Capello. Os holandeses, os italianos, a agressividade competitiva dos<br />

argentinos, a inovação dos húngaros, a constante busca do Barcelona por<br />

superioridade no meio de campo, o perfeccionismo de Bielsa, a lucidez analítica<br />

de um técnico desconhecido na elite competitiva como Juanma Lillo, a paixão<br />

dos escoceses… <strong>Guardiola</strong> não aceita rotular a si mesmo. Não quer se encerrar<br />

em uma categoria; mas, se for preciso, que seja a de “ladrão de ideias”.<br />

Se ele é um revolucionário do futebol, isso se deve à sua capacidade de<br />

desconstruir. Pep estuda muito, aprende com os sábios, extrai a essência das<br />

ideias semeadas nos campos de futebol do mundo inteiro e, com elas, constrói<br />

um sistema de jogo próprio. Nesse sentido, sua criatividade guarda apenas uma<br />

leve semelhança com a de um gênio da cozinha como Ferran Adrià, capaz de<br />

inventar uma receita a partir do nada. A semelhança está nas desconstruções, um<br />

método muito utilizado por Adrià, que decompõe a estrutura de um prato<br />

tradicional e volta a construí-lo de maneira totalmente diferente da já<br />

estabelecida.<br />

A criatividade de <strong>Guardiola</strong> é desse tipo. O falso 9 desenhado para Messi é um<br />

bom exemplo. Como jogador, Pep foi companheiro de Michael Laudrup no<br />

Dream Team de Cruy ff. E Laudrup foi um falso 9 extraordinário. Aquele time<br />

que conquistou quatro Ligas espanholas consecutivas e deu ao Barça sua primeira<br />

Copa da Europa jogou muito tempo sem centroavante. Cruy ff deixava vazia a<br />

zona do finalizador e utilizava Laudrup como “homem sem posição”. Os<br />

zagueiros rivais não sabiam como lidar com ele. Quando se davam conta,<br />

Laudrup estava longe da área, mas havia facilitado a chegada de surpresa dos

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