Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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CÉSAR BENJAMIN<br />
gonistas reais dessa grande engrenagem são os que<br />
decidem ficar fora dela.<br />
No caso de O que é isso, companheiro?, o barulho<br />
publicitário serve para esconder algo simples: a não ser<br />
em dois ou três bons momentos, o roteiro é primário,<br />
os personagens são pobres, a recriação de situações humanas<br />
não é competente. Os autores do filme poderiam<br />
ter feito a opção de não abor<strong>da</strong>r diretamente a tortura,<br />
assunto marginal à temática central. Quiseram mostrála.<br />
Mas, como tudo é relativo e não parece haver mais<br />
valores a defender, apresentam uma tortura limpinha,<br />
que quase não dói, no corpo ou no espírito. Mantêm<br />
eqüidistância até mesmo aí. Opção discutível. Ela pode<br />
levar a dupla a produzir, no futuro, um roteiro que<br />
mostre a complexi<strong>da</strong>de humana, certamente real, de cinco<br />
jovens de Brasília, em contraste com os defeitos, reais<br />
ou inventados, de um pataxó desavisado (creio que não<br />
o farão, por enquanto: análises mercadológicas desaconselhariam<br />
esse filme).<br />
Desculpem, mas a tortura não é bem assim. A valentia<br />
do torturado, quando ele não quebra, concentrase<br />
to<strong>da</strong> na tentativa elementar de controlar o desespero;<br />
sua esperança, quando consegue mantê-la, é usar a única<br />
arma que lhe resta, pois em horas, ou poucos dias, uma<br />
organização clandestina desfaz os laços que ligam o militante<br />
preso e os demais.<br />
Estabelece-se uma corri<strong>da</strong> contra o tempo para os<br />
dois lados, tão desiguais. Isso produz ambientes bem<br />
diferentes dos que o filme nos mostra: em lugar de um<br />
agente conservador, dez ou doze, muito excitados. Medo,<br />
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