Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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ENTREVISTA COM CLÁUDIO TORRES<br />
inclusive contra os próprios companheiros. Na reali<strong>da</strong>de foi isso<br />
que aconteceu?<br />
CLÁUDIO — Não, isso é deformado. A caracterização do<br />
Jonas está bastante deforma<strong>da</strong>, exatamente porque a direção<br />
do filme e o roteiro tentam fazer um contraponto<br />
entre o Jonas e o Gabeira, como se os dois estivessem<br />
representando ali posições antagônicas. Isto não é ver<strong>da</strong>de,<br />
factualmente. Apesar de o livro do Gabeira, O Que É<br />
Isso, Companheiro?, permitir uma interpretação que, se<br />
exagera<strong>da</strong>, leva exatamente a esse tipo de visão; exatamente<br />
porque ele não se preocupa em hierarquizar as<br />
questões, de certa forma confunde o personagem <strong>da</strong> história<br />
com o personagem do livro e do filme. Em relação<br />
ao Jonas, ele evidentemente era um cara duro, você não<br />
pode ser um bom coman<strong>da</strong>nte de ação arma<strong>da</strong> se for<br />
uma pessoa extremamente gentil, um cara que para ca<strong>da</strong><br />
decisão reúne o grupo para saber qual o melhor caminho<br />
a tomar, isso não faz parte do ethos <strong>da</strong> ação arma<strong>da</strong>,<br />
isso não faz parte <strong>da</strong>s exigências organizacionais de um<br />
grupo que se propõe a hostilizar e a combater a ditadura<br />
militar por meio de ações arma<strong>da</strong>s. A ação arma<strong>da</strong> precisa<br />
ter características militares, e as características militares<br />
por definição não podem coexistir com excesso de<br />
democracia. Duro, portanto, ele era, e por isso era um<br />
bom coman<strong>da</strong>nte, e por isso nós o escolhemos para ser o<br />
coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> operação. Agora, de forma alguma, em<br />
nenhum momento na reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ação ele diz coisas<br />
que o filme lhe atribui, como por exemplo aquela entrevista<br />
com o embaixador, que de fato aconteceu, mas que<br />
não tem nenhuma relação com aquilo. E muito menos<br />
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