17.04.2013 Views

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

QUAL É A TUA, COMPANHEIRO?<br />

residem muitos, ain<strong>da</strong> que não todos, de seus problemas.<br />

O debate que se tem travado sobre o filme geralmente<br />

abor<strong>da</strong> a polarização que ocorre entre o torturador<br />

“humanizado” e o dirigente guerrilheiro (Jonas)<br />

apresentado como grosseiro, violento e manipulador.<br />

Vejamos ca<strong>da</strong> um dos lados <strong>da</strong> questão.<br />

O torturador apresentado no filme mostra-se angustiado<br />

com o fato de ter de torturar os jovens e discute<br />

isso com sua mulher. Fora o fato de a cena ser cinematograficamente<br />

ridícula (inverossímil, diálogos artificiais<br />

e francamente ruins, sentimentos dos personagens<br />

subjugados pelo di<strong>da</strong>tismo), ela traz para o debate algumas<br />

questões. A primeira delas é a <strong>da</strong> tortura como uma<br />

decisão racional do torturador. Ele discute a tortura com<br />

a mulher como se houvesse uma possibili<strong>da</strong>de de escolha<br />

racional, por parte dele, entre torturar ou usar outros<br />

métodos. Isso se aprofun<strong>da</strong> nas próprias cenas de tortura:<br />

ele se mantém frio, distante, burocrático. Interroga<br />

o torturado com bons modos, bate com bons modos,<br />

afoga o preso com bons modos. Como se estivesse <strong>da</strong>tilografando<br />

um relatório ou limpando uma arma. A tortura<br />

é apresenta<strong>da</strong> como uma ativi<strong>da</strong>de banal, burocratiza<strong>da</strong><br />

e, portanto, racional. Essa visão do filme é uma<br />

radicalização <strong>da</strong> posição que Gabeira apresenta em seu<br />

livro, no qual define a tortura como racional. Essa visão<br />

é falsa, distorci<strong>da</strong>. A tortura pode ser uma decisão racional<br />

para os altos escalões de comando, que decidem permiti-la<br />

ou aceitá-la como método e são capazes, inclusive,<br />

de man<strong>da</strong>r trazer assessores internacionais para di-<br />

170

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!