17.04.2013 Views

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CINEMA NA ERA DO MARKETING<br />

degra<strong>da</strong>ção, humilhação. E fedor. Pois a tortura fede —<br />

a suor, sangue pisado e excremento, que se acumulam<br />

dias a fio no chão, nas paredes e no corpo do seviciado<br />

nu. Grita-se muito. Vê-se a morte. Sente-se uma imensíssima<br />

sede — e na<strong>da</strong> disso tem a ver com maniqueísmo<br />

nenhum. Nem tudo é relativo.<br />

Serran e Barreto só combatem o maniqueísmo quando<br />

lhes convém. Onde dizem seguir princípios, fazem<br />

escolhas. Vejamos Jonas: é um canalha perfeito, que<br />

ameaça de morte seus companheiros, faz intrigas irritantes,<br />

submete o refém a tortura moral e precisa ser<br />

contido para não escalar em direção a atitudes mais bárbaras<br />

(Jonas, na vi<strong>da</strong> real, foi o operário Virgílio Gomes<br />

<strong>da</strong> Silva, militante respeitado e digno, de longa trajetória,<br />

truci<strong>da</strong>do na Operação Bandeirantes; não teve chance<br />

de escrever livro contando suas façanhas nem creio que<br />

viesse a ter interesse nisso). Vejamos Paulo: tem a idéia<br />

do <strong>seqüestro</strong> (é criativo), conquista o coração de Maria<br />

(é sedutor), recusa-se a usar capuz diante do embaixador<br />

(é elegante), diverge abertamente <strong>da</strong>s malvadezas de Jonas<br />

(é ousado), escreve um belo manifesto (é inteligente),<br />

fala inglês (é culto), percebe que a luta arma<strong>da</strong> está isola<strong>da</strong><br />

(é maduro) e, quando pendurado no pau-de-arara,<br />

responde com gracinhas corajosas às gracinhas do torturador.<br />

Vai para o trono ou não vai? (Paulo, na vi<strong>da</strong> real,<br />

é Fernando Gabeira, cujo relato, considerado fantasioso<br />

por seus companheiros, serviu de base aos autores do<br />

filme.) Quanto aos outros, na<strong>da</strong> a dizer: são figurantes<br />

caricatos ou anódinos, desertos de humani<strong>da</strong>de. O talento<br />

dramático do roteirista esgotou-se em dois perso-<br />

98

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!