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Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

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FRANKLIN MARTINS<br />

forças. Tampouco o filme justifica a tortura. Se a classe<br />

média de baby-doll não caiu nessa, na época do terror de<br />

Estado e <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> maciça, não serão nossos jovens<br />

de bermudão hoje, com democracia e liber<strong>da</strong>de, que<br />

comerão gato por lebre no escurinho do cinema. O personagem<br />

do torturador não passa de uma tentativa; é<br />

um arremedo, raso e sem consistência. Não convence<br />

ninguém. Que diferença para filmes como A história oficial<br />

ou A batalha de Argel, em que a tortura tinha cara,<br />

alma e lógica. Mas, nesses casos, os cineastas podiam arriscar-se<br />

no mergulho. Não tinham medo, ao mesmo<br />

tempo, de condenar a tortura.<br />

Assim, de equilibrismo em equilibrismo, o filme<br />

acaba desequilibrado. Tem seqüências fortíssimas, como<br />

aquela em que Elbrick busca adivinhar a personali<strong>da</strong>de<br />

de seus captores a partir de suas mãos, e cenas infantis,<br />

como o ritual de entra<strong>da</strong> dos militantes na organização<br />

revolucionária — “todos contra a parede!”. Alterna ótimos<br />

diálogos, como o que é travado entre o guerrilheiro<br />

e o ator na porta do teatro, com falas ridículas, como<br />

as do treinamento na praia. É arrastado e chatíssimo no<br />

começo, mas ganha ritmo vertiginoso no final. Tudo<br />

somado, como cinema, não é nem uma obra-prima nem<br />

uma porcaria. É um filme médio. Um resultado previsível<br />

para quem cravou to<strong>da</strong>s as suas apostas na coluna<br />

do meio. A quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> matéria-prima — refiro-me<br />

ao episódio, bem entendido — e a competência do cineasta<br />

permitiriam que o filme tivesse ido mais longe.<br />

Para finalizar, continuo achando, como sempre<br />

achei, pouquíssimo importante a exegese <strong>da</strong>s minúcias<br />

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