17.04.2013 Views

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

QUAL É A TUA, COMPANHEIRO?<br />

de Jonas, nos é mostrado como um sujeito rude e autoritário,<br />

que não hesita em ameaçar de morte os companheiros<br />

que porventura desobedecerem a disciplina<br />

imposta por ele. Também ameaça o embaixador<br />

seqüestrado de tortura e de morte, além de manipular<br />

desonestamente a escala de plantões para colocar um<br />

determinado personagem na situação de ter de executar<br />

o embaixador caso as negociações fracassem. O retrato<br />

que se pinta, portanto, é o de um mau-caráter, stalinista<br />

nos métodos e com uma prática interna de chefe de<br />

gangue. Inicialmente, não vou me deter na questão <strong>da</strong><br />

identificação desse Jonas com o Jonas real, ou seja, com<br />

Virgílio Gomes <strong>da</strong> Silva. Isso fica para depois. A<br />

contestação inicial é outra: para quem militou nas<br />

organizações clandestinas do final dos anos 60, é<br />

inimaginável pensar num dirigente com essas características.<br />

Dirigentes autoritários, houve. Stalinistas, é evidente<br />

que sim. Mas o clima reinante nas organizações<br />

provenientes <strong>da</strong>s lutas internas e rachas do período era<br />

de tal ordem (bem ao estilo libertário e antiautoritário<br />

<strong>da</strong> época) que qualquer dirigente que tentasse manter a<br />

disciplina com ameaças de morte seria imediatamente<br />

apeado do seu posto, acusado de autoritário, obreirista,<br />

stalinista, contrário ao espírito do marxismo-leninismo<br />

e do centralismo democrático. Organizações inteiras<br />

racharam por muito menos: a disciplina dos militantes,<br />

“pequeno-burgueses provenientes do movimento estu<strong>da</strong>ntil”,<br />

era garanti<strong>da</strong> por meio de longuíssimas<br />

discussões eiva<strong>da</strong>s de citações dos clássicos, sessões de<br />

crítica e autocrítica, áci<strong>da</strong>s comparações com a discipli-<br />

174

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!