17.04.2013 Views

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CONSUELO LINS<br />

Se o filme, de uma maneira ou de outra, funciona<br />

é justamente porque nós, espectadores, fazemos<br />

uma montagem “mental” do que nos é oferecido com<br />

as imagens que faltam, que estão em nossas mentes e<br />

que foram obti<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s maneiras. Nesse<br />

sentido, a minissérie <strong>da</strong> TV Globo, Anos rebeldes, teve<br />

um papel importante na afirmação, para grande parte<br />

<strong>da</strong> população, desses acontecimentos — a resistência<br />

arma<strong>da</strong> à ditadura, a tortura —, tarefa que conseguiu<br />

realizar com mais densi<strong>da</strong>de do que o filme de Bruno<br />

Barreto.<br />

Essa operação mental, <strong>da</strong> qual depende o filme de<br />

Barreto, integra, de fato, todo e qualquer processo de<br />

“leitura” de um filme, mas no caso de obras sobre acontecimentos<br />

<strong>da</strong> história, esse processo é mais específico.<br />

O campo no qual nos instalamos para assistir ao filme<br />

tem referências comuns mais partilha<strong>da</strong>s.<br />

Tornar o personagem do torturador complexo e<br />

problematizado e simplificar ao extremo o papel dos<br />

seqüestradores não dá ao filme qualquer toque de moderni<strong>da</strong>de<br />

e o torna indigno dos acontecimentos. Aliás,<br />

a ausência de ousadia nos filmes com temas políticos é<br />

uma constante no cinema contemporâneo. Underground,<br />

de Emir Kusturica, talvez seja uma <strong>da</strong>s poucas<br />

exceções nesse cenário de pouca criativi<strong>da</strong>de. No entanto,<br />

de Vertov a Go<strong>da</strong>rd, de Eiseinstein a Glauber Rocha<br />

e Alain Resnais, o cinema efetivamente político sempre<br />

foi muito mais do que um cinema de conteúdo político.<br />

E nesses cineastas, as dimensões <strong>da</strong> política e <strong>da</strong> estética<br />

sempre estiveram imbrica<strong>da</strong>s.<br />

153

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!