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Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

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CONTRAPONTO<br />

quase imperceptível. Aparentemente, os acontecimentos<br />

giram em torno do jornalista Fernando. Mas no filme ele só<br />

tem relevância (ele só é o guerrilheiro mais elaborado, mais<br />

complexo) porque fala inglês e, assim, será aquele que, entre<br />

os esquerdistas fanáticos (surdos para as razões do americano),<br />

tem condições de diálogo com o embaixador. Diálogo<br />

aqui não designa apenas uma tradução que torne compatíveis<br />

dois idiomas distintos. Significa uma interlocução existencial.<br />

O jornalista Fernando escuta e entende as razões do<br />

diplomata seqüestrado.<br />

À primeira vista, o que se vê no filme é que o personagem<br />

de Fern<strong>da</strong>ndo, um jornalista, dono de um bom texto,<br />

com estilo etc, é mais, como se dizia naquele tempo, “intelectualizado”<br />

que os outros. Tanto assim que até era bilíngüe,<br />

uma conseqüência a mais de sua sofisticação intelectual.<br />

Mas, uma vez que o narrador não é mais ele, e sim o<br />

embaixador americano, podemos observar que o que se dá é<br />

exatamente o oposto: é o atributo de falar inglês que confere<br />

ao nosso jornalista guerrilheiro uma amplitude humana<br />

e intelectual que os outros não têm. Ele não é como seus<br />

companheiros, um radical produzido pela ignorância subdesenvolvi<strong>da</strong>;<br />

se compreende inglês, não pode ser tão ignorante<br />

a ponto de ser fanático. Ele é alguém que enxerga o<br />

outro lado. É o interlocutor por excelência. Ele não fala<br />

inglês por ter tido uma formação melhor que os outros —<br />

mas é melhor que os outros, menos estreito, menos cego e<br />

menos surdo, porque fala inglês. Como o embaixador.<br />

Ain<strong>da</strong> sobre o deslocamento do narrador, é importante<br />

visualizar como é que se estruturam os pólos dramáticos. Se<br />

o narrador fosse mesmo um guerrilheiro, e se o filme tives-<br />

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