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Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

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FRANKLIN MARTINS<br />

num misto de gozo e desequilíbrio que deixa a platéia<br />

em pânico — afinal, um assassino está no comando de<br />

um grupo de guerrilheiros de araque.<br />

Mas o Jonas do filme não se limita a ser um animal<br />

feroz com os inimigos. É também um tremendo mau<br />

caráter com os companheiros. A versão de Barreto/Serran<br />

é que Jonas passava o tempo todo fazendo intrigas e<br />

tentando desqualificar aqueles que não pertenciam a seu<br />

grupo. Como se isso fosse pouco, ain<strong>da</strong> teria manipulado<br />

a escala <strong>da</strong> guar<strong>da</strong> do diplomata, para que o turno <strong>da</strong><br />

possível execução de Elbrick tocasse ao guerrilheiro-intelectual<br />

que, desde o primeiro momento, ele odiou e<br />

perseguiu. Não há dúvi<strong>da</strong>: tratava-se de um sujeitinho<br />

ordinário, um recalcado <strong>da</strong> pior espécie.<br />

Terá o Jonas do filme algo a ver com o Jonas <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de? Conheci este último durante um período curto,<br />

de 2 a 7 de setembro de 1969, quando participamos<br />

juntos do <strong>seqüestro</strong> do embaixador norte-americano.<br />

Nossa convivência foi curta, mas devido às circunstâncias,<br />

intensa. Posso assegurar que o Jonas do filme é um<br />

insulto ao Jonas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> real.<br />

A sessão inicial de advertência nunca existiu, em<br />

momento algum do interrogatório o embaixador foi<br />

ameaçado com uma arma na cabeça; as intrigas e<br />

mu<strong>da</strong>nças de escala atribuí<strong>da</strong>s a Jonas não passam de<br />

invencionices. Durante todo o <strong>seqüestro</strong>, ele comportou-se<br />

como deveria se comportar à testa de uma ação<br />

como aquela. Era um homem valente e determinado,<br />

tranqüilo e atento, entusiasmado mas com os pés no<br />

chão. Tudo bem: ele não havia lido Gramsci e Lukács,<br />

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