Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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EUGÊNIO BUCCI<br />
outros descobrem uma história genial, movimenta<strong>da</strong>, com<br />
ingredientes de suspense, aventura e romance, como essa do<br />
<strong>seqüestro</strong> de Charles Elbrick. Essa história já pedia uma filmagem<br />
desde que livro de Fernando Gabeira se provou de<br />
forte apelo comercial (vendeu mais de 250 mil exemplares).<br />
Topar o desafio era enfrentar um tabu. O <strong>seqüestro</strong>, a<br />
luta arma<strong>da</strong>, a tortura, tudo isso é um capítulo traumático<br />
na memória nacional e é especialmente embaraçoso nas relações<br />
entre Brasil e Estados Unidos. O apoio americano ao<br />
golpe militar brasileiro e às barbari<strong>da</strong>des cometi<strong>da</strong>s contra<br />
presos políticos e seus familiares no Brasil e em outros países<br />
<strong>da</strong> América Latina é ain<strong>da</strong> razão de um desconforto para<br />
o qual a melhor política tem sido o silêncio diplomático.<br />
Mas era preciso encarar o tabu. Em primeiro lugar porque,<br />
dentro do imaginário brasileiro, a luta arma<strong>da</strong> pouco a pouco<br />
sai <strong>da</strong> desmemória e se revela um dos raros períodos com<br />
boa matéria-prima para o entretenimento, com modelos de<br />
paixão política, intensi<strong>da</strong>de dramática e figuras quase mitológicas.<br />
Isso já se sentia em Anos Rebeldes, guar<strong>da</strong>dos todos<br />
os empobrecimentos, e se expresou em tons maiúsculos com<br />
Lamarca, de Sérgio Rezende (1994). Desse passado pouco<br />
digno, feito de conciliações e covardias que é o nosso, a resistência<br />
mortal de alguns heróis contra a ditadura é um capítulo<br />
do qual os brasileiros podem se orgulhar. É uma prova<br />
<strong>da</strong> bravura nacional, ain<strong>da</strong> que derrota<strong>da</strong>. Os erros táticos<br />
ou políticos quase não importam. Foi por isso, talvez,<br />
que, depois de ver o filme, Marcelo Coelho exprimiu com<br />
um ponto de exclamação o seu respeito pela biografia de<br />
alguém como Fernando Gabeira: “Que vi<strong>da</strong>, afinal, ele teve!”<br />
(Folha de S. Paulo, 30/04/97). Assim, a simples escolha do<br />
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