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Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

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EUGÊNIO BUCCI<br />

tica que já está no livro de Fernando Gabeira. Apenas<br />

vem de sinal trocado: no livro, a caretice dos guerrilheiros<br />

era um sinal negativo, um defeito que tinha raízes<br />

numa visão fecha<strong>da</strong> demais <strong>da</strong> própria política, era um<br />

desvio a ser superado; no filme, a caretice tem sinal positivo,<br />

quer dizer, não é um traço que atrapalha o grupo,<br />

mas um traço essencial a ele, que até produz bons resultados<br />

(sem aquela disciplina careta não teria sido possível<br />

uma ação tão espetacular). No livro, a caretice é um<br />

problema; no filme, uma solução, o que é muito pior.<br />

Daí a estreiteza aparecer na tela com o sinal trocado.<br />

* * *<br />

É ver<strong>da</strong>de que o O que é isso, companheiro? não guar<strong>da</strong><br />

lá muita reverência em relação aos fatos. Omite-os, recriaos,<br />

inventa-os 1 . São, digamos, licenças ficcionais sobre um<br />

episódio real. Talvez pareçam licenças demasiado licenciosas<br />

mas é imperioso recorrer a elas em qualquer a<strong>da</strong>ptação.<br />

E embora muitos dos críticos ataquem as imprecisões históricas<br />

que surgem na tela como quem denuncia a armação de<br />

uma mentira histórica, não são as licenças ficcionais que tanto<br />

incomo<strong>da</strong>m. Filmes tão distintos como Outubro ou Batalha<br />

de Argel apresentam cenas específicas que jamais aconteceram.<br />

Nem por isso recebem tantas críticas à esquer<strong>da</strong>. Entende-se,<br />

sem que se declare, que o sentido produzido pelas<br />

suas cenas, ain<strong>da</strong> que fictícias aqui e ali, é a expressão <strong>da</strong><br />

ver<strong>da</strong>de. Em alguns casos, <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de “revolucionária”. Sem<br />

1. Veja alguns exemplos no final do texto.<br />

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