17.04.2013 Views

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

RENATO TAPAJÓS<br />

na “natural” dos quadros operários ou camponeses —<br />

jamais por meio de ameaças diretas e cruas. Essa disciplina<br />

obti<strong>da</strong> pela ameaça é típica dos bandos de gângsteres<br />

— <strong>da</strong> máfia aos nossos traficantes locais. Transportar esse<br />

tipo de atitude para dentro de um grupo guerrilheiro <strong>da</strong><br />

esquer<strong>da</strong> arma<strong>da</strong> no Brasil dos anos 60 é não ter<br />

informação sobre a política interna dessas organizações<br />

ou, simplesmente, má-fé.<br />

E aqui se coloca a questão do Jonas. Na vi<strong>da</strong> real, a<br />

ação de <strong>seqüestro</strong> do embaixador norte-americano pela<br />

ALN e pelo MR-8 em 1969 foi coman<strong>da</strong><strong>da</strong> por Virgílio<br />

Gomes <strong>da</strong> Silva, codinome Jonas. No filme, a ação de<br />

<strong>seqüestro</strong> do embaixador norte-americano pela ALN e<br />

pelo MR-8 em 1969 é coman<strong>da</strong><strong>da</strong> por um militante de<br />

codinome Jonas. É impossível não identificar os dois.<br />

Dizer que não são a mesma personagem é querer contar,<br />

ao contrário, a pia<strong>da</strong> do sujeito que não se chamava<br />

Joaquim e não morava em Niterói. Na medi<strong>da</strong> em que<br />

todos os depoimentos de militantes que conheceram o<br />

ver<strong>da</strong>deiro Jonas contradizem frontalmente o personagem<br />

do filme, só restou ao diretor do filme, Bruno Barreto,<br />

e ao próprio Gabeira, argumentar que o filme é<br />

“ficção” e que não se pode cobrar dele fideli<strong>da</strong>de ao real.<br />

Evidentemente este mesmo argumento vai servir para<br />

justificar to<strong>da</strong>s as “diferenças” entre a versão do filme e<br />

a reali<strong>da</strong>de, aí incluí<strong>da</strong>s a caracterização do torturador e<br />

as relações internas à organização guerrilheira. O que<br />

nos leva a uma outra discussão: quais são as responsabili<strong>da</strong>des<br />

que um filme dito de ficção tem ao recriar uma<br />

época real e personagens reais? É evidente que a ficção<br />

175

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!