Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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FICÇÃO É JULGADA SOB AS LENTES DA HISTÓRIA<br />
militantes revolucionários, só preserva a imagem do<br />
Paulo, isto é, do Fernando Gabeira, que é o único personagem<br />
conflituoso, rico. Os outros personagens são<br />
monolíticos. Acho que se eles tivessem feito uma pesquisa<br />
mais séria, teriam descoberto os conflitos que existiam<br />
até mesmo nos mais sectários, e poderiam ter feito<br />
um filme mais rico. Por outro lado, os autores do filme<br />
são capazes de ver conflitos nos personagens do embaixador<br />
e do torturador. Mas não vêem conflitos nos guerrilheiros,<br />
à exceção do Gabeira. Isso, a meu ver, não é<br />
uma coisa gratuita. Acho que esse filme se insere numa<br />
tendência que é marcante no Brasil de hoje, de<br />
recuperação dos anos 60 sob um prisma conciliador.<br />
Acho que, como sempre, há uma luta em torno <strong>da</strong><br />
apropriação do passado. Em to<strong>da</strong>s as socie<strong>da</strong>des há sempre<br />
uma luta de um passado em geral e de momentos<br />
críticos desse passado. Acho que os anos 60 foram críticos<br />
e, naturalmente, há uma tendência a uma<br />
apropriação deles. Uma dessas tendências é conciliadora,<br />
apresenta sob um prisma alegre to<strong>da</strong> essa etapa <strong>da</strong> nossa<br />
história. Ela está presente fun<strong>da</strong>mentalmente em dois<br />
livros: o do Gabeira e o do Zuenir Ventura (1968 — o<br />
ano que não terminou). Acho que esse filme radicaliza<br />
essa tendência, leva a limites que o Gabeira e o Zuenir<br />
Ventura não haviam chegado, que são esses limites <strong>da</strong><br />
apresentação do torturador sob uma luz generosa.<br />
ESTADO – Por que radicaliza?<br />
REIS – No caso, radicaliza porque o Gabeira faz uma<br />
análise dos torturadores no livro muito interessante, a<br />
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