17.04.2013 Views

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

EUGÊNIO BUCCI<br />

encarnando uma rigidez tirânica, além de estúpi<strong>da</strong>, não chega nem a<br />

ser uma caricatura do Jonas que existiu de ver<strong>da</strong>de, Virgílio Gomes<br />

<strong>da</strong> Silva, um herói <strong>da</strong> história do Brasil. É simplesmente outra figura:<br />

está lá para representar o lado burocrático e militarista <strong>da</strong>quela esquer<strong>da</strong><br />

que, esta sim, existiu de fato. Dar a esse personagem o nome<br />

de Jonas talvez tenha sido um deslize ético (é bastante enfático, sobre<br />

isso, o artigo “As duas mortes de Jonas”, de Franklin Martins, que foi<br />

um dos seqüestradores; ver página 117). Talvez o erro pudesse ter<br />

sido evitado com uma troca de nome.<br />

2. Joaquim Câmara Ferreira, cujo codinome era Toledo, e Virgílio<br />

Gomes <strong>da</strong> Silva, o Jonas, vindos de São Paulo, chegam de táxi ao<br />

sobrado que os abrigaria. Trazem metralhadoras dentro de uma grande<br />

mala. Um contra-senso. Dificilmente os dirigentes <strong>da</strong> ALN, já perseguidos<br />

naquele ano, fariam uma parte que fosse de uma viagem<br />

como aquela dentro de um táxi. Joaquim Câmara Ferreira era o segundo<br />

homem <strong>da</strong> ALN, e sua organização não cometeria tamanha<br />

temeri<strong>da</strong>de.<br />

3. Na operação de libertação do embaixador e fuga dos seqüestradores,<br />

o filme mostra uma briga entre duas viaturas policiais. A primeira<br />

pretendia seguir os guerrilheiros; a outra interceptou a primeira,<br />

deixando os guerrilheiros escaparem para não pôr em risco a vi<strong>da</strong> do<br />

americano. Trata-se de uma fantasia. Nem no livro original de Fernando<br />

Gabeira a história está conta<strong>da</strong> desse modo. Na ver<strong>da</strong>de, foi<br />

um carro dos próprios guerrilheiros, na retaguar<strong>da</strong>, quem espantou<br />

os perseguidores.<br />

4. A julgar pelo filme, a repressão já sabia exatamente qual era a casa<br />

em que estava o embaixador e teria condições de fotografar e identificar<br />

quase todos os participantes do <strong>seqüestro</strong> no momento <strong>da</strong> fuga.<br />

Depois, bastaria localizá-los. Mas não foi bem assim. De fato, agentes<br />

do Cenimar, dentro de uma Rural Willys, mantiveram a casa sob<br />

vigilância desde o segundo dia. Mas muitos outros endereços eram<br />

vigiados do mesmo modo. Encontrar os guerrilheiros foi mais difícil<br />

do que o filme dá a entender. O paletó de um deles, Cláudio Torres<br />

<strong>da</strong> Silva, esquecido na casa depois <strong>da</strong> ação, acabou sendo uma pista<br />

decisiva: ali estava o endereço do alfaiate. Ele foi preso no dia 9 de<br />

setembro. Esta pista inicial, que desencadeou a caça<strong>da</strong> selvagem que<br />

se segiu àquela Semana <strong>da</strong> Pátria, não aparece no filme.<br />

5. A anistia de 1979 não foi aquela maravilha ampla, geral e irrestrita<br />

que sugere um dos letreiros finais do filme.<br />

225

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!