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Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

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CONTRAPONTO<br />

tema já é, por si mesma, muito expressiva. A luta arma<strong>da</strong> apaixona,<br />

cativa, comove platéias ain<strong>da</strong> hoje, ou melhor, sobretudo<br />

hoje, com personagens que não são carneirinhos, que são<br />

grandiosos. O que não é pouco.<br />

Mas na tela a coisa to<strong>da</strong> desan<strong>da</strong>, aparentemente para a<br />

direita. No cinema, a história resultou emocionante, heróica,<br />

mas estranha. A explicação para a “estranheza” não é a<br />

opção ideológica reacionária dos produtores do filme. A<br />

explicação é outra: o deslocamento do narrador, coisa que,<br />

dentro dos moldes de mercado e institucionais em que esses<br />

filmes vêm sendo feito, independe <strong>da</strong> opção “ideológica”<br />

dos produtores. Esse deslocamento é provocado por um<br />

imperativo externo ao próprio filme. O imperativo é: esse<br />

filme tem que falar inglês. E falar inglês, nesse caso, é mais<br />

complexo do que simplesmente usar um idioma; é usar uma<br />

organização americana para a história e para a sua narrativa.<br />

Vejamos.<br />

No livro, escrito em primeira pessoa, o narrador era o<br />

próprio Gabeira. Já no filme, se observarmos com atenção,<br />

vamos notar que quem narra a história não é mais o jornalista<br />

Fernando, mas o americano Charles Elbrick. Para além<br />

deste filme em particular, esse deslocamento é parte de um<br />

outro, mais abrangente: o deslocamento do narrador do<br />

próprio cinema brasileiro. Há tempos temos visto esses filmes<br />

brasileiros que “nem parecem brasileiros”. E muitos<br />

observadores já identificaram: se não parecem brasileiros é<br />

porque parecem, ou gostariam de parecer, americanos. Não<br />

que o mero afastamento de uma aparência brasileira já os<br />

transporte a uma aparência americana (é menos automático<br />

do que isso), mas quando busca espaço no mercado globali-<br />

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