17.04.2013 Views

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

EUGÊNIO BUCCI<br />

zado, e globalizado segundo os padrões de produção e consumo<br />

<strong>da</strong> indústria do entretenimento de moldes americanos,<br />

o cinema nacional abre mão de pelo menos algumas<br />

características de seu sujeito narrador em busca de substituí-las<br />

por características de outro. O narrador se transforma<br />

à medi<strong>da</strong> que o público se expande. Às vezes, o filme<br />

consegue descartar sua função original de filme brasileiro,<br />

aquela “tarefa incômo<strong>da</strong> de internalizar a crise” de que falou<br />

Ismail Xavier ao comentar a produção nacional dos anos<br />

60, para adotar uma outra, que é a de contar uma história<br />

segundo uma visão de mundo coesa, que passa pela crise<br />

sem internalizá-la mas, de preferência, vencendo-a. É o nosso<br />

caso, agora.<br />

O narrador é Charles Elbrick. É ele quem escreve as<br />

cartas que sintetizam os perfis dos personagens, é dele o texto<br />

em off que se ouve aqui e ali; embora ele saia <strong>da</strong> história<br />

antes que ela termine, é sob sua ótica que os acontecimentos<br />

serão narrados (e, do ponto de vista americano, não seria<br />

absurdo dizer que a anistia de 1979 beneficiou “todos” os<br />

perseguidos políticos; seria apenas uma inexatidão menor).<br />

O narrador, fun<strong>da</strong>mentalmente, é aquele que narra em inglês.<br />

Não custa anotar que Elbrick, embora falasse português,<br />

insiste desde o começo do filme em conversar com os<br />

seqüestradores em seu idioma de ci<strong>da</strong>dão americano. Não é<br />

apenas a sua língua que <strong>da</strong>rá suporte para a narrativa, mas é<br />

também o seu modo de ver o mundo — é o seu modo de ser,<br />

o seu espírito sujeito de cinema americano, de alguém que<br />

passa por dentro <strong>da</strong> crise sem internalizá-la.<br />

Sendo uma vítima, Elbrick é um tipo de narrador passivo,<br />

por isso sua toma<strong>da</strong> de poder na condução do filme é<br />

217

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!