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Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

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CONTRAPONTO<br />

de um Golbery do Couto e Silva (quando ele se refere à<br />

tortura como um “frasco” que não deveria ter sido aberto,<br />

pois fugirá ao controle, temos a sensação de ouvir trechos<br />

<strong>da</strong> obra de um estrategista diplomado). O outro torturador,<br />

o negro, não se incomo<strong>da</strong> com a truculência, do mesmo<br />

modo que o guerrilheiro Jonas (o do filme, bem entendido),<br />

o operário, também não se incomo<strong>da</strong>. Numa simetria<br />

bilateral perfeita, há um espelho entre a tortura e a guerrilha<br />

— e no fio desse espelho caminha o bom senso do embaixador,<br />

pedindo a compreensão geral. Ele terá chances de<br />

consegui-la agora, depois de morto, quando o colégio eleitoral<br />

<strong>da</strong> Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de<br />

Hollywood estiver votando nos premiados do Oscar. Esse<br />

colégio eleitoral vota com a consciência ética (ou culpa<strong>da</strong>).<br />

Não vota segundo critérios estéticos.<br />

Pois aí estamos: em O que é isso, companheiro? os protagonistas<br />

<strong>da</strong> luta arma<strong>da</strong> deixam de ser protagonistas <strong>da</strong> história.<br />

Eles agora se tornam uma terceira pessoa no meio de<br />

uma história que não lhes pertence, a do embaixador. Num<br />

horizonte mais amplo, eles foram parar dentro <strong>da</strong> história<br />

do sujeito narrador do cinema americano, que ocasionalmente<br />

engoliu um trecho <strong>da</strong> história do Brasil. Nisso talvez<br />

resi<strong>da</strong> o golpe mais insuportável para os críticos à esquer<strong>da</strong>:<br />

de alguém que pretendia tomar nas mãos as rédeas dos acontecimentos,<br />

a régua e o compasso para traçar o futuro, os<br />

heróis <strong>da</strong> guerrilha se vêem, sem que se perceba, relegados à<br />

condição de coadjuvantes. Em Anos Rebeldes, pelo menos,<br />

eles ocupavam a posição triunfante de protagonistas. Não<br />

importa se desfeitos em mingau de melodrama: os militantes<br />

eram os protagonistas.<br />

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