Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
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Estamos diante da distinção diltheyana entre os a<strong>de</strong>ptos do Naturwissenschaften e os<br />
a<strong>de</strong>ptos do Geistwissenschaften. Os primeiros afirmam que as Ciências Humanas <strong>de</strong>vem se<br />
aproximar o quanto mais do método das Ciências Naturais, on<strong>de</strong> há a separação bem<br />
marcada entre sujeito e objeto. Guiados pela questão da intersubjetivida<strong>de</strong>, os segundos<br />
primam pela necessida<strong>de</strong> da distinção entre as duas ciências, uma vez que o objeto das<br />
Humanas é, também, sujeito.<br />
Viver em Itaúnas possibilitou vivenciar as perdas sofridas pelos sujeitos comunida<strong>de</strong>s<br />
locais produzidas pela implantação do território da agroindústria: o extenso “tapete” <strong>de</strong><br />
eucaliptos dividido em talhões, recortado por estradas, recebendo gran<strong>de</strong>s doses <strong>de</strong><br />
agrotóxicos e herbicidas, sufocando cursos d’água e nascentes, ro<strong>de</strong>ando árvores frutíferas -<br />
testemunhos <strong>de</strong> antigos sítios da região-, imagens e histórias que não estão presentes nos<br />
discursos das empresas <strong>de</strong> celulose. Numa época <strong>de</strong> certificações <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e<br />
preocupação com a opinião pública, estes discursos minimizam os impactos advindos da<br />
monocultura do eucalipto e, para isto, utilizam uma obscura linguagem tecnicista. O<br />
trabalho <strong>de</strong> campo e a história oral permitiram checar e questionar a teoria difundida pelos<br />
discursos das empresas produtoras <strong>de</strong> celulose: as evidências empíricas somam-se aos<br />
<strong>de</strong>poimentos das comunida<strong>de</strong>s, que também são sujeitos da pesquisa, com sua<br />
subjetivida<strong>de</strong>, percepção e interpretação acerca da realida<strong>de</strong>.<br />
A fim <strong>de</strong> visualizar espacialmente o processo <strong>de</strong> implantação da monocultura do<br />
eucalipto, aos relatos orais somou-se a documentação cartográfica composta pelo Mosaico<br />
<strong>de</strong> Fotos Aéreas (1974-75) e Versão Preliminar do Uso do Solo do Extremo Norte do<br />
Espírito Santo (com base em imagens <strong>de</strong> satélite <strong>de</strong> 1997), fornecidos pela Secretaria do<br />
Estado para Assuntos do Meio Ambiente-SEAMA, e pelo Mapeamento do Uso do Solo da<br />
Bacia do Rio Itaúnas realizado pelo Laboratório <strong>de</strong> Cartografia do Departamento <strong>de</strong><br />
Geografia da UFES, sob coor<strong>de</strong>nação da professora Gisele Girardi. Os croquis foram feitos<br />
com base nos “<strong>de</strong>senhos riscados no chão” pela memória dos moradores antigos.<br />
Os Censos Agropecuários do IBGE –<strong>de</strong> 1920 a 1996- forneceram dados sobre a<br />
concentração e expropriação <strong>de</strong> terras, alavancadas pela mudança no uso da terra.<br />
Conjugados os relatos orais, a documentação cartográfica e os dados estatísticos, obtevese<br />
a comparação do uso do solo nas diferentes épocas e as transformações sociais daí<br />
produzidas. Assim a memória das comunida<strong>de</strong>s interagiu com os dados estatísticos e<br />
acadêmicos:<br />
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