Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
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Seu Didi – Sítio, sítio. Tranqüilo. Criava muito porco, essas coisa. Daqui até<br />
chegá lá na..., num tem a Igrejinha ?<br />
– Lá no Linharinho ?<br />
Seu Didi - É. Até chegar lá. Ali ainda tem pessoas daquele tempo, ainda, que<br />
mora ali.<br />
– E no Vale do Angelin, também ? Esses sítios eram todos da linha até o<br />
Angelin?<br />
Seu Didi – Tudo, tudo, tudo, tudo. O Angelin saía on<strong>de</strong> hoje é a BR-101. Tudo<br />
moradores.<br />
– E do lado da lá ? Tinha bastante sítio também ?<br />
Seu Didi – Lá ? Do rio ?<br />
– É. Perto do <strong>São</strong> Domingos, né ?<br />
Seu Didi – Tinha, tinha. Tudo tinha sítio. Tudo tinha seus dono.<br />
– E essas pessoas estão aon<strong>de</strong>, hoje ?<br />
Seu Didi – Eles, muitos já morreram, hoje se algum, só tem...só tem, dali do<br />
Linharinho só tem, que tem um sítio ainda, pra banda do...aon<strong>de</strong> tira petróleo,<br />
é o...Mateus <strong>de</strong> Ernesto e o João Corumba.”(Valdir Alves, 61, em 05.11.01)<br />
As ameaças à comunida<strong>de</strong> tradicional pelo uso e posse <strong>de</strong> seus territórios também<br />
ocorrem no mar. Além da floresta, o mar é também território <strong>de</strong> uso comum das<br />
comunida<strong>de</strong>s extrativistas, básico na manutenção <strong>de</strong> sua organização produtiva e social. A<br />
zona do mar <strong>de</strong> Itaúnas on<strong>de</strong> há concentração dos peixes –a “lama”- é <strong>de</strong> uso constante dos<br />
pescadores artesanais, on<strong>de</strong> se pesca com linha e re<strong>de</strong>:<br />
“Para muitas populações tradicionais que exploram o meio marinho, o mar<br />
tem suas marcas <strong>de</strong> posse, geralmente pesqueiros <strong>de</strong> boa produtivida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>scobertos e guardados cuidadosamente pelo pescador artesanal. (...)<br />
conservada pela lei do respeito que comanda a ética reinante nessas<br />
comunida<strong>de</strong>s” 98 .<br />
Entretanto, principalmente no período <strong>de</strong> verão, esta zona vem sendo disputada pelos<br />
barcos <strong>de</strong> arrasto que caminham pela praia <strong>de</strong> Itaúnas, vindos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conceição da<br />
Barra e outras localida<strong>de</strong>s brasileiras à procura do camarão. Estes barcos passam a pouca<br />
distância da areia da praia, arrastando com malha fina em toda a zona da “lama”, levando<br />
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DIEGUES, Antônio Carlos S. Pescadores, camponeses e trabalhadores do mar. Coleção Ensaios n.º 94.<br />
<strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, Ática, 1983, p.83.<br />
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