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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...

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horário. Como instrumentos musicais, os jongueiros utilizam tambores, recorecos<br />

(casacas) e caixas, na maioria das vezes, confeccionados artesanalmente<br />

pelos próprios componentes do grupo”. 69<br />

Os versos do Jongo, embora relatassem o sofrimento, anseios e esperanças dos<br />

escravos, passavam ininteligíveis aos ouvidos dos senhores, a quem aparentemente não<br />

oferecia perigo por não utilizar facas, espadas ou armas <strong>de</strong> fogo, mas somente instrumentos<br />

musicais. Este entendimento da classe senhorial permitiu que o Jongo se configurasse como<br />

a diversão dos negros escravos, embora sorrateiramente a “brinca<strong>de</strong>ira” disseminasse a<br />

comunicação que costurava suas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> protesto e revolta.<br />

“Mesmo com essa ‘diversão vigiada’, o Jongo po<strong>de</strong> ser a única forma <strong>de</strong><br />

comunicação entre os negros aquilombados pelas matas e os da cida<strong>de</strong>,<br />

‘quando o tambô andava pidindo adijutório pelos mato, pra festa <strong>de</strong> <strong>São</strong><br />

Binidito, que era uma coisa muito antiga, bem antes da Igreja Católica proibí;<br />

o Jongo cantava na música o recado que os nego pricisava sabê, por isso que<br />

até hoje muita gente não inten<strong>de</strong> o que o Jongo tá cantando; é isso que vem do<br />

tempo do cativero e só os escravo sabia intendê cada verso cantado’”. 70<br />

Sendo permitidas, a música e a dança do Jongo acompanhavam o Tambor <strong>de</strong> <strong>São</strong><br />

Benedito, quando os negros saíam percorrendo os sertões <strong>de</strong> <strong>São</strong> Mateus e Conceição da<br />

Barra pedindo esmolas para realizar a festa do santo em 27 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro. Atualmente,<br />

existem dois grupos <strong>de</strong> Jongo <strong>de</strong> <strong>São</strong> Benedito –o <strong>de</strong> <strong>São</strong> Mateus e o da comunida<strong>de</strong> das<br />

Barreiras- e um <strong>de</strong> <strong>São</strong> Bartolomeu, localizado em Santana, Conceição da Barra.<br />

Junto ao Jongo, outros tambores ecoavam nas matas, emoldurando os rituais mágicos<br />

e religiosos da Mesa <strong>de</strong> Santa Maria, <strong>de</strong> Santa Bárbara ou Cabula. A <strong>de</strong>scrição mais<br />

<strong>de</strong>talhada sobre este ritual veio do primeiro bispo do Espírito Santo, Dom João Batista<br />

Corrêa Nery, que visitou a região em 1901, introduzindo a censura, proibição e perseguição<br />

da prática aberta da Cabula. Sob a ótica cristã ro<strong>de</strong>ada <strong>de</strong> estranhamento, D. João tenta<br />

<strong>de</strong>screver as crenças que baseiam o ritual <strong>de</strong> origem africana:<br />

69 NARDOTO, Eliezer & LIMA, Herinéa. História <strong>de</strong> <strong>São</strong> Mateus. EDAL, 1999, p.374.<br />

70 AGUIAR, Maciel <strong>de</strong>. Salvino Rodrigues – o Jongo <strong>de</strong> <strong>São</strong> Benedito. História dos Vencidos – cad.26.<br />

Centro Cultural Porto <strong>de</strong> <strong>São</strong> Mateus, Editora Brasil-Cultura, 1996, p.11.<br />

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