Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
floresta tropical-, contribuem para que a precipitação atinja o solo mais intensamente e mais<br />
rapidamente. Aumentando a erosão, produz-se o assoreamento dos cursos d’água,<br />
intensificado ainda mais pelo manejo florestal <strong>de</strong>senvolvido.<br />
“Umberto -A terra que eles araram, aí a chuva batia e acabou com o leito dos<br />
córrego.<br />
– Por que ?<br />
Umberto – Porque jogou o barro tudo <strong>de</strong>ntro do córrego.<br />
– Eles tiraram a mata que tinha em volta dos rios ?<br />
Umberto – Tiraram. Pois é, aí é o barro <strong>de</strong>scia, né, e vinha indo, foi indo, foi<br />
secando, foram fazendo aterro no meio <strong>de</strong>ssa estrada aí, como era tudo ponte<br />
antigamente, nessa estrada pra chegar na Barra, esses correguinho era tudo<br />
ponte. Então, o córrego passava por baixo, né. Aí jogaram aquele buero, né,<br />
fazia aquele buraquinho, jogava terra pra cima do córrego, tampou.<br />
– De quando é esse aterro aí ?<br />
Umberto – Ah, isso aí, isso aí tem uns...20 e poucos anos, já, que acabaram<br />
com eles, essas...as pontezinha.<br />
– Mas foi a Aracruz que fez o aterro ?<br />
Umberto – Prefeitura, né, e a Aracruz veio e...a Aracruz tirou as ponte, veio e<br />
jogou terra”. (Umberto, 57, em 27.09.99)<br />
Os impactos advindos do manejo florestal nos cursos d´água somam-se ao<br />
comportamento biológico das espécies plantadas na escala da monocultura nos curtos ciclos<br />
<strong>de</strong> corte exigidos pela agroindústria, evidências estampadas no meio físico e reforçadas<br />
pelos <strong>de</strong>poimentos das comunida<strong>de</strong>s locais. A vivência <strong>de</strong> Seu Osmar testemunha a morte<br />
<strong>de</strong> quase todos os 14 rios e córregos que atravessavam a estrada entre Itaúnas e a Se<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Conceição da Barra. Em 1999, apenas o <strong>São</strong> Domingos, afluente do Cricaré, dispunha <strong>de</strong><br />
água:<br />
“- E quando o eucalipto chegou, como é que foi que ele entrou na terra?<br />
Seu Osmar - Quando o eucalipto chegou, essa terra que nóis tomava conta não<br />
era nossa não, era <strong>de</strong> um negociante...dono da terra...mas nóis tomava conta<br />
da terra <strong>de</strong>le, gado <strong>de</strong>le, tinha gado nosso, tinha <strong>de</strong>le, <strong>de</strong> muita gente. Depois<br />
que o eucalipi chegou, acabou com esses mato, acabou até com as comida dos<br />
boi...eles araram tudo para plantar o eucalipi. E o eucalipi, o eucalipi <strong>de</strong>rrotou<br />
com nóis do lugar proque... comeu as água toda. Você não vinha aqui no tempo<br />
130