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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...

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terapêuticos da flora nativa, pondo em prática receitas <strong>de</strong> medicamentos que no final eram<br />

distribuídos entre os participantes. Deste período nasceu uma primeira cartilha, intitulada<br />

“Remédios Caseiros <strong>de</strong> Itaúnas”, mas infelizmente este trabalho não prosseguiu<br />

coletivamente <strong>de</strong>vido à necessida<strong>de</strong> não suprida <strong>de</strong> estrutura e recursos mínimos para a<br />

produção dos medicamentos. Zirinha, que é também <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> escravos, ensina<br />

alguns remédios que eram retirados da mata nativa e hoje são cultivados nos jardins e<br />

quintais <strong>de</strong> algumas famílias:<br />

“– Como é que vocês aprendiam essas coisas do mato ?<br />

Zirinha – Menina, vinha <strong>de</strong> geração pra geração, né. Né ? Porque as mãe, a<br />

mãe da minha mãe ensinava pra ela, a mãe <strong>de</strong>la já ensinou pra ela, né. E gripe,<br />

fazia o xarope, pra livrá da farmácia, né, porque a situação financeira era<br />

muito... precária.(...) É, né, então... aí eles fazia xarope <strong>de</strong>...<strong>de</strong> que<br />

é...<strong>de</strong>...Poejo, né, essa Raiz <strong>de</strong> Erva Santa, a Raiz da Taririquinha, mesmo,<br />

cozinhava tudo junto, né, fazia aquelas mistura, Flor <strong>de</strong> Sabuguero... <strong>de</strong>ixa eu<br />

vê o que mais... Folha <strong>de</strong>... Curindiba, diz que é boa pra... né, tem uma coisa aí<br />

que ataca as criança, que mata, né, uma tosse aí, a gente não po<strong>de</strong> nem falá,<br />

que mata as criança, então, um galhinho <strong>de</strong> Curindiba madura, a folha do...<br />

Coloral, maduro também, botava, fazê aquele xarope, <strong>de</strong>pois queimava o<br />

açúcar, jogava aquele chá em cima, <strong>de</strong>ixasse fervê, até virá um... lambedô, um<br />

mel assim, sabe ? Aí dava à criança, né... e a Bicuíba, também, da mata, que<br />

hoje em dia não existe mais Bicuíba, né.<br />

– Estes remédios eram todos nativos daqui, eram mato ?<br />

Zirinha – Nativo, é mato. Nasce sozinho, né, e a Bicuíba, eles pegava assim,<br />

ralava a Bicuíba, né, e botava n’água morna, aí negócio <strong>de</strong> chiera, que a<br />

pessoa ficava chiando assim nos peito, né, (...) é asma. Então, aquilo curava<br />

asma. Era meio ruim, né, <strong>de</strong> tomá, mas tomava, tinha que tomá. E tinha muito<br />

remédio aí, casero, minha filha, que agora eu nem to lembrando mais... Fazia<br />

lambedô <strong>de</strong> Rosa... Rosa... Cravo, né, um Cravo é a rosa, mas nem só <strong>de</strong><br />

espinho, não, né. Aí misturava com Malmequer, com Folha <strong>de</strong> <strong>São</strong> João,<br />

é...<strong>de</strong>ixa eu vê o que mais... essa Vassourinha Branca, isso cozinhava, lavava,<br />

daí cozinhava e fazia o cozido bem forte, né, e fazia do mesmo jeito como pra<br />

asma, queimava o açúcar, jogava e abafava, <strong>de</strong>ixava ele fervê até ficar assim,<br />

aquele mel assim, não muito grosso, senão ficava...né, mas ficava aquele<br />

lambedô, eles falava que era lambedô, né. Hoje em dia, fala que é xarope, né,<br />

eles falava que era lambedô. Com capricho conservava um bocado <strong>de</strong> dia, né, e<br />

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