Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
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apresenta uma alta concentração <strong>de</strong> terras ocupadas pela monocultura do eucalipto, seguida<br />
da cana-<strong>de</strong>-açúcar. Os assentamentos rurais re-inserem a figura do sitiante, não mais<br />
predominantemente extrativista, mas agricultor. O novo sujeito social do campo surge <strong>de</strong><br />
movimentos <strong>de</strong> reconquista da terra e tem um perfil politicamente contestatório e<br />
reivindicador; portanto um histórico, práticas e perfil cultural diferenciados das<br />
comunida<strong>de</strong>s “nativas” locais. É este sitiante que produz a maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos<br />
agrícolas consumidos e vendidos no município, enquanto a maioria das comunida<strong>de</strong>s<br />
tradicionais encontram-se <strong>de</strong>spossuídas <strong>de</strong> suas terras, cercadas pelo eucalipto, trabalhando<br />
nas carvoarias. No caso <strong>de</strong> Itaúnas, há o diferencial do turismo em períodos sazonais, que<br />
hoje respon<strong>de</strong> por parte da subsistência local e alimenta fortes expectativas da comunida<strong>de</strong>,<br />
traduzidas na proliferação <strong>de</strong> quartinhos <strong>de</strong> aluguel no fundo dos quintais.<br />
Assim se configura esta história <strong>de</strong> perdas. Num curto intervalo <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong><br />
30 anos, a implementação do projeto celulósico do Estado Brasileiro vem impondo<br />
profundas transformações na organização social, econômica e cultural das comunida<strong>de</strong>s<br />
locais. Aqui se dá a <strong>de</strong>sestruturação <strong>de</strong> seu modo <strong>de</strong> vida.<br />
Este trabalho objetivou abrir espaço para a voz dos impactados, dando visibilida<strong>de</strong> a<br />
uma interpretação que vem contestar o discurso e imagem veiculados massivamente pelas<br />
empresas <strong>de</strong> celulose. Os relatos aqui expostos retratam um momento <strong>de</strong> um processo ainda<br />
em curso. Sua importância vem no sentido <strong>de</strong> registrar esta história e <strong>de</strong> acenar com<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> questionamento dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento -não só celulósicos- do<br />
período militar.<br />
É <strong>de</strong> fundamental importância que estas questões tenham espaço na Aca<strong>de</strong>mia,<br />
colocando a produção do conhecimento para discutir as mazelas geradas pela lógica<br />
autoritária da acumulação <strong>de</strong> uns poucos e exclusão e expropriação da maioria <strong>de</strong> outros.<br />
Contudo, é mister que este instrumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia ecoe para além da Aca<strong>de</strong>mia,<br />
alimentando a esperança acerca das possibilida<strong>de</strong>s práticas <strong>de</strong> reversão dos impactos<br />
sofridos pelas comunida<strong>de</strong>s extrativistas, quilombolas, camponesas, pelos povos indígenas<br />
e <strong>de</strong>mais povos, nas muitas <strong>de</strong> suas lutas por uma vida digna.<br />
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