Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
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A pon<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Caboquinho é acompanhada por DIEGUES:<br />
“em muitos casos, a criação <strong>de</strong>ssas áreas protegeu os moradores tradicionais<br />
contra a especulação imobiliária galopante e a expropriação <strong>de</strong> suas terras<br />
(...). Entretanto, foram severamente tolhidos <strong>de</strong> exercer, no interior <strong>de</strong>ssas<br />
áreas, suas ativida<strong>de</strong>s habituais, como a agricultura, o extrativismo e a<br />
pesca” 137 .<br />
Contudo, na mata as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r continuam a se estabelecer, reafirmando o<br />
território das empresas. As poucas áreas <strong>de</strong> Reserva “protegidas pelo IBAMA” –Reserva<br />
Legal e Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação- também são <strong>de</strong>sejadas pela caça esportiva dos altos<br />
escalões da Polícia Ambiental e das empresas <strong>de</strong> celulose. Em certas ocasiões, há o<br />
encontro entre estes e os “caçadores” da comunida<strong>de</strong>, momento em que se celebra o<br />
compromisso do sigilo, baseado nas ameaças feitas pelas “autorida<strong>de</strong>s”, que estabelecem<br />
seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> caçadores “por esporte”:<br />
“ – (...) Só vai te ameaçar se você tiver com arma ou cachorro, caçando.<br />
Caçando, ele vai te ameaçar, né. Ou tirando ma<strong>de</strong>ira...<br />
– Mas eles caçam também?...<br />
– Não, qualquer um caça, eu também vô lá e mato um bichinho pra mim<br />
cumê.(... )O menino da Aracruz , o Capitão Roberto, várias vezes topei ele<br />
caçando. Mas num vô mexê com um cabra daquele. Mas o Parque aí tirou ele<br />
da firma. Não por mim! Tirou ele da firma. Todo domingo ele tava com o<br />
Coronel, com tudo, caçando lá. Vô mexê com um monte <strong>de</strong> policial daquele ?<br />
Me topa sozinho, né menina, me mete um tiro, me joga embaixo do rio,<br />
cabô.(...) Mas eu, até com o Capitão eu tinha or<strong>de</strong>m pra mim pegar uma fruta,<br />
tirar um côco na área. Falô “qualquer coisa, pessoal, qualquer um guarda da<br />
Aracruz que falá, você fala que eu <strong>de</strong>i or<strong>de</strong>”. Ele <strong>de</strong>u o número do telefone<br />
<strong>de</strong>le, tudinho. “Botei or<strong>de</strong> pr’ocês tirá , não tem problema, não”. Só porque eu<br />
peguei ele caçando, né.” (novembro/ 2001)<br />
A comunida<strong>de</strong> enxerga, assim, que embora o uso do meio natural lhe esteja<br />
legalmente restrito, o recurso caça é utilizado “esportivamente” pelas empresas produtoras<br />
<strong>de</strong> celulose e alguns órgãos <strong>de</strong> fiscalização ambiental. Os moradores constatam<br />
137 DIEGUES, op.cit., p.132.<br />
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