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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...

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embarreá a casa tal dia”, eu “Tal dia? Tá”. Aí, quando num <strong>de</strong>mora “ô, vem<br />

cá sábado pr’ocê me dá uma mão pra embarreá?”. Aí quando era dia <strong>de</strong><br />

sábado, você ia lá, o povão tava lá no embarreio, nego cantava, nego pintava,<br />

naquele tempo num tinha tempo <strong>de</strong> cachaça, você levava um litinho, que aquele<br />

tempo era difícil. Enten<strong>de</strong>u? Quando era <strong>de</strong> noite, o baile. Ê, bailão <strong>de</strong> arrancá<br />

poeira!<br />

– E as casas eram muito construídas com barro, assim, estuque?<br />

João – Era muito! Era tudo construído com barro! Tudo construído com barro!<br />

– E cobria com que?<br />

João – Cobria com taubinha e paia, essa paia <strong>de</strong> Indaiá. A taubinha você<br />

<strong>de</strong>rrubava o pau, que tratava Araroba, <strong>de</strong>rrubava o pau, aí pegava o traçador<br />

em dois, serrava, enten<strong>de</strong>u, serrava, <strong>de</strong>pois que serrasse todinho, aí tinha o<br />

cuitelo, tratava o cuitelo, que trata hoje facão, mas é o cuitelo, aí metia o pau<br />

no bicho ali, aí botava e cortava a marreta <strong>de</strong> pau <strong>de</strong>sse jeito aí, aí um batia<br />

assim tum! Outro batia e fazia tá! Aí pocava. Aí pocava aquele piero, mil, duas<br />

mil pra tampá uma casa, se quisesse fazê casa boa. Naquele tempo, quem tinha<br />

uma casa boa <strong>de</strong> taubinha era milionário. É, porque eu vô te contá, hoje é<br />

igual à telha, né. Aí, o que que acontece, aí a gente ainda tinha que limpá ela,<br />

<strong>de</strong>ixá bem limpinho com facão, pá, pá, aí pregava um prego e vai... mas ê...eu<br />

tenho sauda<strong>de</strong> daquela cobertura”. (João <strong>de</strong> Deus Falcão dos Santos, 52, em<br />

15.08.01)<br />

O mutirão acontece ainda na época <strong>de</strong> fabricar a farinha <strong>de</strong> mandioca e o beiju. A<br />

casa <strong>de</strong> farinha é espaço predominantemente feminino, ocupado pelas mulheres e crianças.<br />

Principalmente na arte do beiju, o dia é o momento <strong>de</strong> colocar as conversas em dia as mães,<br />

avós, tias, sobrinhos e netos. O grupo passa alguns dias na casa <strong>de</strong> farinha, aproveitando a<br />

safra da mandioca.<br />

Uma gran<strong>de</strong> parte das roças antigas ainda possui farinheiras construídas <strong>de</strong> estuque e<br />

equipamentos feitos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira nobre, que testemunham a existência <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong><br />

árvores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte na região. Em seu célebre trabalho <strong>de</strong> registro da história das<br />

comunida<strong>de</strong>s negras existentes nos municípios <strong>de</strong> Conceição da Barra e <strong>São</strong> Mateus,<br />

AGUIAR 51 apresenta o Quilombo do Negro Rugério, localizado na povoação <strong>de</strong> Santana, o<br />

maior produtor <strong>de</strong> farinha da região no século XIX:<br />

51 AGUIAR, Maciel <strong>de</strong>. Negro Rugério – farinha <strong>de</strong> mandioca e chicote. Série História dos Vencidos – cad.<br />

6. Centro Cultural porto <strong>de</strong> <strong>São</strong> Mateus, Editora Brasil-Cultura, 1995, p.20.<br />

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