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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...

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As dunas atingem, então, o Porto, <strong>de</strong>spejando-se sobre o rio Itaúnas. O canal do rio,<br />

“sufocado”, não permite a mesma vazão da água, provocando a cheia do alagado. Segundo<br />

<strong>de</strong>poimentos colhidos por Ênio, morador curioso <strong>de</strong> Itaúnas, o alagado ficou<br />

permanentemente cheio por 11 anos, causando, inclusive, o apodrecimento <strong>de</strong> árvores que<br />

se fixavam nas pequenas “ilhas” da planície <strong>de</strong> inundação.<br />

Como solução para voltar à vazão normal do leito do rio, já na década <strong>de</strong> 60, a<br />

Prefeitura draga uma passagem para a água, próxima à nova Vila. No antigo aterro utilizado<br />

pelos caminhões na espera da travessia da farinha é aberta a nova calha do rio e um outro<br />

caminho <strong>de</strong> acesso à praia passa a ser utilizado, passando pelo sítio do Tamandaré através<br />

<strong>de</strong> aterro e pontilhão. Tamandaré morava próximo à Vila Antiga, porém parte da mata <strong>de</strong><br />

restinga que o protegia dos ventos não foi retirada; então, a areia solta empurrada pelo<br />

vento nor<strong>de</strong>ste encontra aí um obstáculo até os dias <strong>de</strong> hoje. Para se chegar ao caminho do<br />

Tamandaré, era necessário atravessar o rio Itaúnas a nado ou a canoa. Na década <strong>de</strong> 1980,<br />

foi construída a primeira ponte <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> três que foram <strong>de</strong>rrubadas pelos chamados<br />

“balseiros” –touceiras <strong>de</strong> vegetação, quase verda<strong>de</strong>iras ilhas flutuantes- que <strong>de</strong>scem,<br />

pesados, principalmente na época das cheias, ao sabor da velocida<strong>de</strong> do rio.<br />

Sob a areia ficaram as antigas ruas, a igreja on<strong>de</strong> se festejava o dia <strong>de</strong> <strong>São</strong> Sebastião e<br />

o <strong>de</strong> <strong>São</strong> Benedito, as soleiras das portas on<strong>de</strong> se sentava na fresca da tar<strong>de</strong> para contar os<br />

“causos” e as histórias <strong>de</strong> pescador, as casas comerciais on<strong>de</strong> se comprava o tecido e o sal,<br />

o porto <strong>de</strong> on<strong>de</strong> saíam as canoas carregadas <strong>de</strong> sacas <strong>de</strong> farinha, os dois cemitérios que<br />

guardam dolorosamente a memória dos mais antigos e a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitá-los.<br />

Embora a nova Vila <strong>de</strong> Itaúnas tenha sido construída nos mesmos mol<strong>de</strong>s, seguindo os<br />

traços culturais tradicionais da comunida<strong>de</strong>, permanece a sauda<strong>de</strong> da Vila Antiga:<br />

“Dona Dorota –Eu morava no sertão, vinha todos dias na Itaúnas, mas do lado <strong>de</strong><br />

lá, hein ? Lá on<strong>de</strong> é as dunas agora, né. Lá era Itaúnas muito boa, muito, é mesmo melhor<br />

do que aqui, que num tinha essa confusão <strong>de</strong> gente... num havia esse negócio... essas<br />

porcarietagem...porque esse lugar mais sossegado...” (Dorotéia Batista, 77, em 03.05.99)<br />

3.3. “Terra à rola” e Modo <strong>de</strong> Vida<br />

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