Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
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território da agroindústria implanta-se sobre o território <strong>de</strong>stas comunida<strong>de</strong>s, através <strong>de</strong><br />
um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> exploração econômica <strong>de</strong> elevados impactos socioambientais.<br />
Em 1991, a implantação do Parque Estadual <strong>de</strong> Itaúnas, Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação <strong>de</strong><br />
Proteção Integral administrada pela Secretaria <strong>de</strong> Estado para Assuntos do Meio Ambiente,<br />
veio representar a sobreposição <strong>de</strong> mais um território, o estatal, regido pela lógica da<br />
preservação ambiental. No antigo território <strong>de</strong> uso comum das comunida<strong>de</strong>s passava a<br />
predominar a lógica da proprieda<strong>de</strong> privada, monopolizada, burocratizada e consolidada<br />
sob o aval e incentivo do Estado.<br />
A história da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaúnas configura-se numa história <strong>de</strong> perdas: a antiga<br />
Vila <strong>de</strong> Itaúnas, ponto <strong>de</strong> convergência do “sertão”, foi soterrada pelas areias da restinga<br />
<strong>de</strong>smatada; gran<strong>de</strong> parte da “terra a rola” que compreendia florestas, rios e “posses livres”<br />
foi transformada numa massacrante monocultura <strong>de</strong> eucalipto com vários cursos d’água<br />
contaminados e mortos, solos estéreis, ausência <strong>de</strong> alimento e perda da liberda<strong>de</strong>; e uma<br />
significativa parte das áreas restantes não ocupadas pela monocultura do eucalipto foi<br />
transformada em Parque e Reserva Legal das empresas.<br />
Entretanto, algumas práticas e valores tradicionais insistem em permanecer, como a<br />
pesca em canoas realizada no mar, rios e brejos, as benze<strong>de</strong>iras, reza<strong>de</strong>iras e o uso <strong>de</strong> ervas<br />
medicinais, o forte sentimento religioso celebrado nas ladainhas, festas <strong>de</strong> santo e<br />
brinca<strong>de</strong>iras –Ticumbi, Jongo e Samba <strong>de</strong> <strong>São</strong> Benedito-, a produção <strong>de</strong> farinha nas<br />
farinheiras das roças e as relações familiares e <strong>de</strong> compadrio, que ainda constituem forte<br />
base <strong>de</strong> organização social da comunida<strong>de</strong>.<br />
Estas evidências nos levantam questões sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manutenção do<br />
modo <strong>de</strong> vida da comunida<strong>de</strong>: como as ativida<strong>de</strong>s tradicionais se mantêm, inseridas que<br />
estão no universo do uso direto e cotidiano do recurso natural ?<br />
O trabalho <strong>de</strong> campo possibilitou o conhecimento <strong>de</strong>stas resistências e contribuiu para<br />
o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se efetivar a pesquisa participante, através da discussão e busca <strong>de</strong> alternativas<br />
para a reversão dos impactos sofridos não só pela comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaúnas, mas também por<br />
outras que se localizam no Extremo Norte do Espírito Santo e se organizam sob o mesmo<br />
modo <strong>de</strong> vida. Os referenciais teóricos e metodológicos adotados pela pesquisa participante<br />
são tratados no primeiro capítulo.<br />
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