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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...

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3.4. Práticas extrativistas no mar e na floresta: pesca, caça, cestaria, uso <strong>de</strong> ervas e <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira<br />

Um dos traços característicos da comunida<strong>de</strong> tradicional é a solidarieda<strong>de</strong> como<br />

princípio organizativo. O mutirão ou “ajuntamento” testemunha estas práticas <strong>de</strong><br />

cooperação, que po<strong>de</strong>m ser solicitadas por quem está precisando ou mesmo oferecida pelos<br />

vizinhos. Neste trabalho, não há remuneração, contudo a relação <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> é selada<br />

pelo compromisso moral do beneficiário em correspon<strong>de</strong>r aos pedidos <strong>de</strong> auxílio por parte<br />

daqueles que o ajudaram:<br />

“Consiste essencialmente na reunião <strong>de</strong> vizinhos, convocados por um <strong>de</strong>les, a<br />

fim <strong>de</strong> ajudá-lo a efetuar <strong>de</strong>terminado trabalho: <strong>de</strong>rrubada, roçada, plantio,<br />

limpa, colheita, malhação, construção <strong>de</strong> casa, fiação, etc. Geralmente, os<br />

vizinhos são convocados e o beneficiário lhes oferece alimento e uma festa, que<br />

encerra o trabalho. Mas não há remuneração direta <strong>de</strong> espécie alguma, a não<br />

ser a obrigação moral em que fica o beneficiário <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r aos<br />

chamados eventuais dos que o auxiliaram. Este chamado não falta, porque é<br />

praticamente impossível a um lavrador, que só dispõe <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra<br />

doméstica, dar conta do ano agrícola sem cooperação vicinal. (...) Um velho<br />

caipira me contou que no mutirão não há obrigação para com as pessoas, e<br />

sim para com Deus (...)” 49 .<br />

Na época em que ainda existia a Floresta Tropical <strong>de</strong>nsa e extensa, o mutirão<br />

acontecia na ocasião da <strong>de</strong>rrubada <strong>de</strong> mata para abrir a roça:<br />

“João - Lá em casa também o meu pai, num era só meu pai, muita gente, a<br />

gente fazia o juntamento também, né. O juntamento é o seguinte, a gente tava<br />

com a <strong>de</strong>rrubada pra fazê, um arquere, lá em casa sempre usava um arquere,<br />

papai sempre usava um arquere <strong>de</strong> mata pra <strong>de</strong>rrubá. Aí ele matava dois porco<br />

e chamava a gente. Ele chamava fulano, fulano, bertano, os vizinho todo, às<br />

veiz chamava quinze, vinte macha<strong>de</strong>iro. Aí quando era <strong>de</strong> manhã cedinho, ia<br />

chegando <strong>de</strong> um a um. Aí mamãe fazia a farofa, dois cal<strong>de</strong>irão assim, aí botava<br />

aí, o povo comia e papai, pocava pra roça, pra <strong>de</strong>rrubada. Derrubá mata,<br />

<strong>de</strong>rrubá mata, <strong>de</strong>rrubava pra roça, pra fazê roça, plantá mandioca. (...) Aí<br />

quando era meio-dia, aquele montão <strong>de</strong> home lá, meio-dia mamãe já arranjava<br />

49 CANDIDO,op. cit., p.68.<br />

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