Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
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Apresentação<br />
“Da fartura à escassez - a agroindústria <strong>de</strong> celulose e o fim <strong>de</strong> territórios comunais no<br />
Extremo Norte do Espírito Santo”.<br />
Esta pesquisa teve como objetivo o levantamento dos impactos socioambientais da<br />
monocultura do eucalipto para a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaúnas -esten<strong>de</strong>ndo-se a outras<br />
comunida<strong>de</strong>s do entorno que ainda suprem sua subsistência através <strong>de</strong> práticas<br />
extrativistas- e, num segundo momento, contribuiu na busca por possíveis alternativas <strong>de</strong><br />
reversão <strong>de</strong>stes impactos.<br />
O modo <strong>de</strong> vida das comunida<strong>de</strong>s tradicionais, extrativistas, ribeirinhas, pescadoras<br />
ou quilombolas do Extremo Norte do Espírito Santo baseava-se no trabalho familiar, no uso<br />
predominantemente extrativista e comunal do meio natural coberto pela farta floresta<br />
tropical litorânea –que supria as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água, frutos, ma<strong>de</strong>ira, ervas medicinais,<br />
pescado, caça - e na disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terras que permitia o cultivo dos roçados. No início<br />
da investigação, pu<strong>de</strong>mos checar que, no final do século XX, algumas <strong>de</strong>stas ativida<strong>de</strong>s<br />
tradicionais estavam no limite <strong>de</strong> sua existência, <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> área da<br />
floresta tropical, seus bichos, frutos, peixes, suas águas. Esta região, inserida no baixo curso<br />
da bacia hidrográfica do rio Itaúnas, passara pela exploração da ma<strong>de</strong>ira-<strong>de</strong>-lei em larga<br />
escala a partir da década <strong>de</strong> 1920, seguida pela monocultura do eucalipto para produção <strong>de</strong><br />
celulose, incentivada pelo Estado Brasileiro a partir do II Plano Nacional <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento (1974) e concentrada nos municípios <strong>de</strong> Conceição da Barra e <strong>São</strong><br />
Mateus.<br />
A agroindústria <strong>de</strong> celulose que se implantava trazia em si a lógica da otimização do<br />
recurso natural através da mecanização da produção e do uso intensivo <strong>de</strong> agrotóxicos em<br />
gran<strong>de</strong>s extensões <strong>de</strong> terra. A nova escala e forma <strong>de</strong> utilização do recurso natural terra<br />
trazida pela agroindústria produziu o fim das terras <strong>de</strong> uso comum –matas, cursos d’água,<br />
lagoas e brejos-, que supriam gran<strong>de</strong> parte das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alimentação, medicamentos,<br />
lenha e outras. A nova interferência no meio natural consuma a <strong>de</strong>struição das matas, o<br />
assoreamento, a contaminação e a morte dos rios, a perda <strong>de</strong> solos, da proteína animal da<br />
caça e do peixe, dos frutos e da ma<strong>de</strong>ira, produzindo a imediata alteração no modo <strong>de</strong><br />
organização e reprodução econômica, social e cultural das comunida<strong>de</strong>s locais. O novo<br />
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