18.04.2013 Views

Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...

Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...

Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

No rio, a pesca é realizada pelos homens e pelas mulheres. Antigamente, na “época<br />

da Itaúnas Velha”, as armadilhas para a captura do peixe eram confeccionadas com<br />

varinhas e cipó, que hoje foram substituídos pelas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fio <strong>de</strong> nylon e bóias <strong>de</strong> isopor. A<br />

prática da pesca tradicional contemplava, ainda, o manejo <strong>de</strong> espécies com o objetivo <strong>de</strong><br />

aumentar a procriação:<br />

“João –Aí, o que acontece, lá em cima na roça que nóis morava lá, nóis fazia<br />

cerca do valão, né, fazia a cerca no valão, aí quando chegava... que num tinha,<br />

num sabia esses negócio <strong>de</strong> bóia, nem nada, tinha uns home, mas num sabia<br />

nada. Aí nóis cercava, botava o Tapastero no valão do brejo que saía, aí...<br />

– O que é o Tapastero ?<br />

João – Tapastero é um trem ... <strong>de</strong> bambu. Você poca, limpa, limpa, limpa,<br />

limpa e senta em cima e faz o Tapastero, com o cipó, aí fica o Tapastero.<br />

– É como se fosse uma cerca ?<br />

João – Isso! É como se fosse uma cerca. Aí a gente bota no valão Aí pega os<br />

Covo, bota 2, 3 Covo. Covo é o Juquiá, é o Jiqui, enten<strong>de</strong>u ? (...) Aí chegava <strong>de</strong><br />

manhã cedinho, tava escumando <strong>de</strong> peixe! Aí, sabe o que eu fazia ? Peixe<br />

miúdo, aí nóis pegava o Purungo, né, pegava o Purungo, o cabaço, pegava ele,<br />

aí papai dizia assim “ó, ceis leva esse Purungo gran<strong>de</strong>, ceis leva ele que eu<br />

quero...ceis enche <strong>de</strong> fio <strong>de</strong> peixe que eu quero levá pra lagoa”.(...) Chegava<br />

lá, nóis enchia o Purungo, <strong>de</strong>spejava o peixe, ia botando o peixe miúdo,<br />

tudinho, tudinho, tudinho, tidin, tidin, aí ele levava lá pra lagoa, que hoje é a<br />

Lagoa Domingo Lope. Aí chegava lá, <strong>de</strong>spejava, galha <strong>de</strong> peixe ! Aí, pá, pá, o<br />

brejo secava tudo, o brejo secava, aí que quando chegava a época da lagoa, o<br />

peixe tava assim, cada um Morobá, cada uma Traíra, que nóis botava !” (João<br />

<strong>de</strong> Deus Falcão dos Santos, 52, em 15.08.01)<br />

Nos tempos das extensas matas da Floresta Tropical, as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteína<br />

eram bastante supridas também pela caça, prática que hoje é proibida pela legislação<br />

ambiental, mas que continua sendo realizada pela comunida<strong>de</strong> e por pessoas <strong>de</strong> fora, tanto<br />

como necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentação quanto para a venda. As técnicas tradicionais <strong>de</strong> captura<br />

eram artesanais, construídas com varinhas, bambu e cipó, material que vem sendo<br />

substituído pelo metal e pólvora das armadilhas <strong>de</strong> fogo. Os animais <strong>de</strong> caça concentravamse<br />

no interior das matas <strong>de</strong>nsas e nos brejos e alagados. Zirinha, atualmente moradora da<br />

Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Clara, no Vale do Angelin, relata a prática da caça e <strong>de</strong> conservação<br />

54

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!