Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
“A Casa <strong>de</strong> Farinha, numa produção pré-industrial, também recebeu o nome<br />
<strong>de</strong> bolan<strong>de</strong>ira, que tinha como característica uma roda gran<strong>de</strong> puxada por<br />
uma junta <strong>de</strong> bois ou cavalos, que acionava uma espécie <strong>de</strong> ro<strong>de</strong>te <strong>de</strong> ralar<br />
mandioca, evitando assim o serviço manual da roda <strong>de</strong> fieira.<br />
Depois da mandioca raspada, era lavada em gran<strong>de</strong>s cochos –espécies <strong>de</strong><br />
gamelas feitas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira cavada-, e levada ao ralador, on<strong>de</strong> a raiz da<br />
mandioca se transformava em massa”.<br />
Depois <strong>de</strong> raspada a casca da mandioca –trabalho realizado principalmente pelas<br />
mulheres e crianças- e ralada com motor ou manualmente, a massa é mergulhada em tachos<br />
com água para tirar a goma, utilizada nos beijus <strong>de</strong> fáti, <strong>de</strong> coco, <strong>de</strong> amendoim e na tapioca<br />
utilizada nos mingaus e farinha <strong>de</strong> coco. Retirada a goma, a massa é prensada para tirar o<br />
caldo e quando seca, é torrada nos fornos sobre os pratos <strong>de</strong> cobre para fazer a farinha<br />
(pura) ou o beiju (com coco ralado e açúcar).<br />
“Em seguida, a massa era levada para a prensa, on<strong>de</strong> era prensada por<br />
aproximadamente 24 horas, quando por um orifício extraía-se o ácido<br />
prússico. A prensa era uma enorme cavida<strong>de</strong> no tronco <strong>de</strong> uma árvore com um<br />
tampão, um parafuso conhecido como ‘moleque’, e um virador que fazia<br />
pressão apertando a massa, que ficava envolta em folhas <strong>de</strong> bananeira ou<br />
coqueiro e que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> seca, era peneirada e levada ao cocho gran<strong>de</strong>. Meio<br />
dia <strong>de</strong>pois, era a massa murchada no forno até virar farinha”. 52<br />
As práticas extrativistas estão presentes, ainda, no uso <strong>de</strong> fibras vegetais da floresta<br />
para o fabrico <strong>de</strong> cestos, samburás e esteiras, no uso medicinal das ervas nativas, na caça e<br />
na pesca nos rios e no mar, realizada pelos 50 pescadores <strong>de</strong> Itaúnas.<br />
Tradicionalmente, a pesca em Itaúnas é realizada em canoas a remo, tanto no rio<br />
como no mar, canoas outrora esculpidas num único tronco das centenárias árvores nobres<br />
da Floresta Tropical:<br />
“–E as canoas, vocês faziam <strong>de</strong> que ? que ma<strong>de</strong>ira vocês utilizavam ?<br />
Seu Didi – Antigamente ? Oiticica, Goiticica, é...Jaqueira, é...Juerana, essas<br />
ma<strong>de</strong>ira que faz as canoa.<br />
52 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m.<br />
49