Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
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Augusto RUSCHI, biólogo e pesquisador responsável pela fundação do Museu<br />
Nacional <strong>de</strong> Biologia “Prof. Mello Leitão”, no município <strong>de</strong> Santa Tereza-ES, nos traz<br />
informações históricas e técnicas a respeito do tema, reconstrói a situação natural<br />
encontrada antes da chegada do eucalipto e estimula a indignação frente ao processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>vastação que se apresenta. Em publicações do Museu 139 , constrói a crítica ao discurso das<br />
empresas produtoras <strong>de</strong> celulose, cujo maior exemplo na década <strong>de</strong> 1970 está no livreto<br />
intitulado O Eucalipto e a Ecologia, encomendado pela Aracruz a um grupo <strong>de</strong><br />
pesquisadores.<br />
O primeiro “mito” difundido pelas empresas refere-se à idéia da alta produtivida<strong>de</strong><br />
dos plantios <strong>de</strong> eucalipto e às afirmativas <strong>de</strong> que os plantios foram realizados em áreas já<br />
<strong>de</strong>gradadas, não cobertas por vegetação nativa, ou “áreas <strong>de</strong>smatadas, coberta por<br />
arbustos improdutivos ou com raros cultivos <strong>de</strong> mandioca” 140 , como encontrado no artigo<br />
<strong>de</strong> Lamberto GOLFARI -“Fantasias e Realida<strong>de</strong>s sobre Plantios <strong>de</strong> Eucaliptos”.<br />
Disseminando a idéia da “não-vocação” <strong>de</strong>stas terras para a agricultura, este discurso<br />
inferioriza valorativamente a forma tradicional do uso da terra e constrói a idéia<br />
naturalizante acerca da “vocação” do ambiente local, diminuindo a amplitu<strong>de</strong> e importância<br />
ambiental, social e econômica da Floresta Tropical nativa e justificando o plantio das<br />
“florestas” homogêneas <strong>de</strong> espécies exóticas. Este discurso, difundido pelas empresas<br />
produtoras <strong>de</strong> celulose, é questionado por RUSCHI e por diversos <strong>de</strong>poimentos locais:<br />
“(...) a floresta abatida era realmente primitiva, on<strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />
espécies a caracterizam como floresta estabilizada. Jamais <strong>de</strong>gradada e muito<br />
menos em estado <strong>de</strong> capoeira”. 141<br />
“- Como é que ela começava a trabalhar no terreno ?<br />
Caboquinho – Ah, o primero que veio foi o <strong>de</strong>smatamento, né.<br />
- Mas os terrenos que a Aracruz comprou, tinham mata também, tinha terreno<br />
<strong>de</strong> mata nativa, <strong>de</strong> floresta ?<br />
Caboquinho – Mata nativa ! Tinha ! Mata nativa ! Quebrava, querava tudo !<br />
Até hoje eu sinto uma falta, uma revolta tão gran<strong>de</strong>... Você passava daqui pra<br />
Conceição da Barra, aqui já você passava por cada uma mata na beira <strong>de</strong>ssa<br />
139<br />
RUSCHI, Augusto. O eucalipto e a Ecologia. Boletim do Museu <strong>de</strong> Biologia, série Divulgação nº.44,<br />
31.05.1976.<br />
140<br />
I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p.22.<br />
141<br />
I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p.57.<br />
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