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mar (...). Para o pescador-lavrador, que espera a entrada da tainha na laguna,<br />

o espaço aquático é como a extensão da terra: são as baías, as enseadas ao<br />

abrigo das tempesta<strong>de</strong>s e dos perigos do mar grosso. Nesse sentido, o mar <strong>de</strong><br />

fora é um elemento <strong>de</strong> base na produção do pescador que vive da pesca, em<br />

oposição ao pescador-lavrador. Viver do mar significa conhecer seus segredos,<br />

as suas manhas”.<br />

A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaúnas mantém semelhanças ora com os “pescadores artesanais”,<br />

ora com os “pescadores-lavradores” <strong>de</strong> Cananéia-SP. Tradicionalmente, esta comunida<strong>de</strong><br />

não vivia exclusivamente do mar, mas usufruía intensivamente da floresta, rios e brejos<br />

para a manutenção <strong>de</strong> sua vida. Entretanto, os pescadores <strong>de</strong> Itaúnas têm como prática<br />

tradicional a saída ao “mar <strong>de</strong> fora”, como os “pescadores artesanais” paulistas,<br />

armazenando um saber a respeito do mar e da “arte da pesca”:<br />

“(...) o controle do como pescar e do que pescar, em suma, o controle da arte<br />

<strong>de</strong> pesca. O domínio da arte exige <strong>de</strong>le uma série <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s físicas e<br />

intelectuais que foram conseguidas pelo aprendizado na experiência, que lhe<br />

permitem apropriar-se também dos segredos da profissão” 54 .<br />

Seu Didi, Mestre do mar, <strong>de</strong>monstra esse saber da “arte da pesca”, adquirido nas<br />

muitas horas <strong>de</strong> vivência em diversos mares e que transparece no respeito e admiração que<br />

expressa:<br />

“Seu Didi –Inclusive, o primeiro Cação quem pegou ontem...sábado, fui eu!<br />

Um Galha-preta.(...)<br />

– E como é que pega um peixe <strong>de</strong>sses ?<br />

Seu Didi – Re<strong>de</strong>. Depen<strong>de</strong> a malha, né. Ele po<strong>de</strong> enrolar. Eu já peguei <strong>de</strong> cento<br />

e tantos quilo, eu peguei um <strong>de</strong> uns 400, numa re<strong>de</strong> 0.8, plástico 80.<br />

– E aí, traz como pra terra?<br />

Seu Didi – (...) Amarrei. Cortei, lá no mar. Cortei. Tive que cortar.<br />

– Quantos metros ?<br />

Seu Didi – 6 metro <strong>de</strong> comprimento.<br />

– É maior que a canoa...<br />

Seu Didi – Maior.(...)<br />

54 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p.198.<br />

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