Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
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“Ora, gran<strong>de</strong> parte das florestas tropicais e outros ecossistemas ainda não<br />
<strong>de</strong>struídos pela invasão capitalista é, em gran<strong>de</strong> parte, habitada por tipos <strong>de</strong><br />
socieda<strong>de</strong>s diferentes das industrializadas, isto é, por socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
extrativistas, ribeirinhos, grupos e nações indígenas. Muitas <strong>de</strong>las ainda não<br />
foram totalmente incorporadas à lógica do lucro e do mercado, organizando<br />
parcela consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> sua produção em torno da auto-subsistência. Sua<br />
relação com a natureza, em muitos casos, é <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira simbiose, e o uso dos<br />
recursos naturais só po<strong>de</strong> ser entendido <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma lógica mais ampla <strong>de</strong><br />
reprodução social e cultural, distinta da existente na socieda<strong>de</strong> capitalista. (...)<br />
É nesses ecossistemas que foram e estão sendo criadas as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
conservação” 135<br />
Entretanto, o olhar do Estado não consi<strong>de</strong>ra o que o trabalho empírico apresenta e<br />
legalmente o Parque impõe limitações ao manejo do meio natural efetuado pela<br />
comunida<strong>de</strong>, como no caso da caça, do roçado, da pesca no rio, da extração <strong>de</strong> lenha, ervas<br />
medicinais e outros produtos da mata, da coleta <strong>de</strong> frutos, práticas que outrora respondiam<br />
pela manutenção <strong>de</strong>stes grupos e reafirmavam seus laços <strong>de</strong> compadrio.<br />
Das restrições ao uso dos recursos naturais, a retirada <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e a caça foram as<br />
que provocaram –e ainda provocam- os maiores atritos com a comunida<strong>de</strong>. De um lado, a<br />
constatação dos impactos ambientais através da extinção <strong>de</strong> espécies da flora e da fauna; do<br />
outro, o argumento da comunida<strong>de</strong> afirmando que suas ativida<strong>de</strong>s tradicionais não po<strong>de</strong>m<br />
ser responsabilizadas por estes impactos, mas sim a monocultura do eucalipto. As<br />
proibições ditadas pelo Estado são vistas pela comunida<strong>de</strong> como perdas na manutenção da<br />
sua sobrevivência:<br />
“Dona Dorota – Morava no Angelin...Aí eu criei meus filho assim, né, nessa<br />
luta, mas graças a <strong>de</strong>us...Aquele mundéu <strong>de</strong> caça...pegava umas paca...sabe<br />
paca ? Então, cada uma assim! Tatu...capivara...E hoje em dia tá mais<br />
acabrunhado por isso: se não tiver o dinheiro pra comprar, como é que come?<br />
Eu mesmo, né, eu não tenho mais filho pra criar, mas tem meus filho, que tem<br />
os filhinho <strong>de</strong>le pra criar. Como é que cria ? Caça não po<strong>de</strong> matar, se matar<br />
vai preso, aí poucos tempo aqui teve aqui um rapaz, trabalhando aqui, ó,<br />
trabalhava aqui, trabalhava nesse canto aí, catando latinha, pra cumprir os<br />
135 DIEGUES, op.cit., p.79<br />
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