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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...

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“com o aparecimento dos Institutos <strong>de</strong> Reforma Agrária nos diferentes<br />

Estados, muitas das áreas que ainda eram <strong>de</strong> uso comum do povo passaram a<br />

ser <strong>de</strong>finitivamente integradas às chamadas terras <strong>de</strong>volutas. Eram assim<br />

concedidos títulos sem muita exigência, sob pagamento em dinheiro”.<br />

Esta concepção jurídica teria sido elaborada na Lei <strong>de</strong> Terras (1850), que:<br />

“(...) levou à alteração do regime jurídico <strong>de</strong> terras no país, além <strong>de</strong><br />

praticamente ignorar as terras <strong>de</strong> uso comum, as insere nas chamadas terras<br />

<strong>de</strong>volutas, as quais são passíveis <strong>de</strong> apropriação individual. Consi<strong>de</strong>rando que<br />

tal Lei serviria <strong>de</strong> base para leis futuras que tratariam da questão da terra em<br />

nível nacional, provincial, estadual ou mesmo municipal (ainda corrente nas<br />

primeiras décadas do século XX), muitas das terras <strong>de</strong> uso comum espalhadas<br />

pelo país passam a sofrer forte processo especulativo e <strong>de</strong> interesses<br />

individuais, inclusive da parte <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong> seus usuários” 93 .<br />

No ano <strong>de</strong> 1977, o estado do Espírito Santo possuía 1.222.310 hectares <strong>de</strong> terras<br />

<strong>de</strong>volutas, correspon<strong>de</strong>ntes a 27% <strong>de</strong> sua área total 94 . Em Itaúnas, embora vivendo da<br />

apropriação <strong>de</strong>ste espaço há algumas gerações, a comunida<strong>de</strong> certifica o po<strong>de</strong>r da<br />

proprieda<strong>de</strong> estatal sobre as terras consolidando o novo território empresarial:<br />

“Caboquinho – Meu avô tinha terreno ali. Tinha terra, tinha gado, tinha tudo,<br />

era bem <strong>de</strong> vida, né ! Aí eu fui pra lá.<br />

– Por que ele ven<strong>de</strong>u ?<br />

Caboquinho – Não sei...Aracruz, as empresa começaram a apertar, num <strong>de</strong>u<br />

mais pra criar porco, num <strong>de</strong>u mais pra criar o gadinho que ele tinha, então...<br />

– Por que, Caboquinho, que não <strong>de</strong>u mais ?<br />

Caboquinho – Ah, não dá, Simone, num dá porque, num dava porque era o<br />

seguinte: naquela história da gente, você era dono <strong>de</strong> dois, treis alquere <strong>de</strong><br />

terra, você se ocupava, usava cinco, <strong>de</strong>z alquere, né. Então, ali, com aquele<br />

ganho seu, com aquele pouco que você tinha, você criava mais na terra do<br />

Estado. Aí foi pocando terreno pequeno, cinco alquere num <strong>de</strong>u mais pra criar<br />

cem, 150 cabeça <strong>de</strong> gado, num <strong>de</strong>u.<br />

– Tinha muita terra ali que era do Estado ?<br />

93 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p.8.<br />

94 Jornal Posição n.º 23. Vitória, 29.10.1977. (Hemeroteca FASE)<br />

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