Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
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assistencialistas da SUDENE, como a distribuição <strong>de</strong> cestas básicas. Assim, os impactos<br />
provocados com a interferência e incentivo do Estado retornam a ele estampados na<br />
pobreza social e lhe pressionam por medidas, que na prática são paliativas e permanecem<br />
alimentando a situação <strong>de</strong> expropriação e <strong>de</strong>pendência das comunida<strong>de</strong>s locais.<br />
As alterações negativas no meio natural produziram, também, a perda <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
biodiversida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> banco genético, que atualmente compõem patrimônio natural <strong>de</strong> alto<br />
valor, inclusive monetário, que vem sendo visualizado e explorado pelas multinacionais<br />
farmacológicas na Floresta Amazônica. O discurso acerca da soberania do Estado brasileiro<br />
em relação à biodiversida<strong>de</strong> amazônica consolida-se, na prática, em sua absoluta liberda<strong>de</strong><br />
na disponibilização <strong>de</strong> recursos naturais aos gran<strong>de</strong>s projetos <strong>de</strong> exploração capitalista,<br />
tanto nacionais quanto internacionais.<br />
No município <strong>de</strong> Conceição da Barra, a biodiversida<strong>de</strong> restante encontra-se, hoje, nos<br />
remanescentes da Floresta Tropical que foram transformados em áreas <strong>de</strong> Reserva Legal<br />
particulares e em Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação. Atualmente, são estas áreas que garantem uma<br />
relativa manutenção do equilíbrio ecossistêmico no médio e baixo cursos da bacia<br />
hidrográfica do rio Itaúnas. Entretanto, estas ações, inseridas na política preservacionista do<br />
Estado e incorporadas pelas empresas produtoras <strong>de</strong> celulose na construção e difusão <strong>de</strong><br />
uma imagem “ecologicamente correta”, priorizam a imagem da natureza “guardada”,<br />
privatizada, intocada e afastada da socieda<strong>de</strong> humana, e não a natureza utilizada <strong>de</strong> forma<br />
sustentável, comunal e autônoma pelas comunida<strong>de</strong>s.<br />
Nesta visão, a preservação dos atributos ambientais só é possível se afastada da<br />
socieda<strong>de</strong> humana. Assim, privatizando o uso <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s extensões <strong>de</strong> terras comunais,<br />
contribuindo com a <strong>de</strong>struição ambiental e negando o acesso comunal aos remanescentes <strong>de</strong><br />
floresta, o Estado Brasileiro exerceu contribuição fundamental na <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> valores e<br />
práticas que constituíam patrimônio cultural das comunida<strong>de</strong>s locais e na imposição <strong>de</strong> um<br />
novo modo <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do mercado <strong>de</strong> consumo urbano e industrial, distante da<br />
autonomia outrora existente. Como reação, a tradicional comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itaúnas mantém<br />
reticências em relação ao Estado e suas formas organizativas, que no caso estudado está<br />
estampada na difícil relação com o Parque Estadual <strong>de</strong> Itaúnas, principalmente por parte<br />
dos mais velhos.<br />
Outra resistência ao mo<strong>de</strong>lo econômico implementado na região está concretizada<br />
territorialmente nos 5 assentamentos rurais do município <strong>de</strong> Conceição da Barra, que<br />
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