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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...

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uma colega, a gente era novo, quando a gente era maior, a gente ia mais ela,<br />

arrumava uma colega lá, os vizinho, as tia, enten<strong>de</strong>u, e pegava 2, 3<br />

cal<strong>de</strong>irãozão <strong>de</strong> carne, enten<strong>de</strong>u, botava aqui outro cal<strong>de</strong>irãozão <strong>de</strong> feijão,<br />

outro <strong>de</strong>sgramera <strong>de</strong> farinha, pra roça. Aí quando chegava lá, meu pai já tinha,<br />

já tinha o rancho que nóis tinha, o ranchão, enten<strong>de</strong>u, aí limpava pra lá e pra<br />

cá, encostava e “ô, ói o almoço!”. Aí o pessoal ia chegando e cada um pegava<br />

seu prato, pegava seu prato. Ia lá, pegava feijão, tocava farinha, pá, pá, pá, aí<br />

terminava. Terminava <strong>de</strong> armoçá e tal, aí mamãe tirava os trem e pocava. De<br />

tar<strong>de</strong>, a janta. É, os dois dia, o dia quem dava comida era papai. Aí quando era<br />

<strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, quatro hora, quatro hora o povo ia chegando. O povo ia chegando,<br />

tomava banho, pá, pá, aí ele botava can<strong>de</strong>inho aceso, aí no meio da casa assim<br />

era no chão, forrava uma esteira e botava o pessoal, aí pá, pá, comia, aí todo<br />

mundo ia pra sua casa” (João <strong>de</strong> Deus Falcão dos Santos, 52, em 15.08.01)<br />

Ainda hoje, o mutirão é realizado na construção <strong>de</strong> casas através do “barreio”, etapa<br />

final da técnica do estuque. O barreio extraía da floresta toda a matéria-prima necessária. A<br />

pare<strong>de</strong> é iniciada pelas peças <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira mais grossas que sustentam o “envarinhamento”<br />

feito <strong>de</strong> galhos trançados e amarrados com cipó. Estrutura levantada, é a vez do barro que<br />

preenche os vãos entre as varinhas trançadas, fechando a pare<strong>de</strong>. Antes da alvenaria, esta<br />

técnica era a mais utilizada na construção das moradias na roça e na Vila, que eram<br />

cobertas com telhado feito <strong>de</strong> pequenas tábuas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira-<strong>de</strong>-lei fixadas com pregos.<br />

Os vizinhos e amigos próximos são convidados para o “barreio”, momento on<strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>senvolve um trabalho coletivo e voluntário. Este dia também é contemplado com<br />

churrasco ou peixe assado, regados com cerveja e cachaça curtida com diferentes plantas e<br />

ervas –gengibre, cipó-cravo, milome. Segundo WOORTMANN 50 , esta troca <strong>de</strong> tempo entre<br />

vizinhos é pensada como ajuda entre iguais que será retribuída, ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>scrita mais<br />

como festa do que como labuta. E em festa, as pare<strong>de</strong>s vão sendo preenchidas<br />

artesanalmente, nesta técnica tradicional que apresenta um satisfatório conforto térmico e<br />

uma forte resistência ao tempo.<br />

“João –Embarreio <strong>de</strong> casa era a mesma coisa, hein! Naquele tempo, o<br />

embarreio, ih, menina, o tal do embarreio <strong>de</strong> casa era infruído, infruído, que<br />

era igual hoje ter uma festa! Aquele tempo, o embarreio da casa, “ó, fulano vai<br />

50 WOORTMANN, op. cit., p.37.<br />

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