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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...

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estrada ! Ali naquele... no hotel ali, aquilo ali era mata virge ! Dali até on<strong>de</strong><br />

tem o alambique ! Mata purinha ! Aí ela pegava com o correntão e quebrava<br />

tudo ! E a gente, quando eles chegava assim, era paca, era tatu, era veado, era<br />

tudo, os bicho ficava entocado tudo, fazia dó, priguiça ! Um dia, tava num<br />

lugar, cheio <strong>de</strong> ave chorando ! Marva<strong>de</strong>za ! Eu vi isso <strong>de</strong>mais aí, ó 1 Mas o que<br />

que vai fazer, né?<br />

- E essas ma<strong>de</strong>iras da mata, ela fazia o que com elas ?<br />

Caboquinho – Queimava.” (Ângelo Camillo, 61, em 05.05.99)<br />

O “correntão” era a engrenagem construída com dois tratores <strong>de</strong> esteira e uma grossa<br />

corrente, que agressivamente passava e <strong>de</strong>rrubava a <strong>de</strong>nsa floresta tropical com seus bichos.<br />

O ambiente do alimento e da água passava a ser <strong>de</strong>struído pela máquina, em larga escala, e<br />

por pessoas da própria comunida<strong>de</strong>, que passavam a trabalhar para as firmas. A revolta <strong>de</strong><br />

Caboquinho é compartilhada por Seu Didi:<br />

“– Tinha muita mata aqui ?<br />

Seu Didi – Muita. Isso aí era pura mata ! Depois meteram dois D-8, com<br />

corrente ! Dois D-8 com a corrente ! Corrente da grossura <strong>de</strong>sse pau aí, ó.<br />

– E os bichos ?<br />

Seu Didi – Ficava na frente, com um porrete, pra matá os passarinho e as<br />

caçaria, doida !<br />

– E comia ou queimava, o que fazia ?<br />

Seu Didi – Cumia e o que ficava <strong>de</strong>baixo das ma<strong>de</strong>ira, queimava tudo.<br />

– E ma<strong>de</strong>ira-<strong>de</strong>-lei, ela tirou a ma<strong>de</strong>ira boa ?<br />

Seu Didi – Tudo ! Não. Queimou tudo.” (Valdir Alves, 61, em 05.11.01)<br />

A <strong>de</strong>struição da Floresta Tropical golpeia a elevada diversida<strong>de</strong> biológica local,<br />

presente na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vegetais e animais listados por RUSCHI 142 em 240 espécies <strong>de</strong><br />

árvores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte (somente na Floresta <strong>de</strong> Tabuleiros, a mais <strong>de</strong>nsa e cujos terrenos<br />

planos <strong>de</strong> sedimentação terciária foram intensamente ocupados pela monocultura), 478<br />

espécies <strong>de</strong> aves, 70 <strong>de</strong> mamíferos, 41 <strong>de</strong> répteis, 31 <strong>de</strong> anfíbios e 37 espécies mais<br />

significativas <strong>de</strong> insetos. A morte <strong>de</strong>stas espécies significou a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias<br />

alimentares, a perda do alimento e da ma<strong>de</strong>ira para as comunida<strong>de</strong>s locais, bem como <strong>de</strong><br />

um vastíssimo banco genético cujo potencial permanece pouco conhecido.<br />

142 RUSCHI, Augusto. Boletim do Museu <strong>de</strong> Biologia “Prof. Mello Leitão”. Santa Tereza, 16.01.1950, pp.<br />

83 a 137 (n.º 1) e 31.05.1976, pp. 34 a 55 (n.º44).<br />

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