Folha de rosto - Arca - Fiocruz

Para o médico há sempre - em consonância com os parâmetros
cartesianos que orientam sua prática - uma causalidade linear que explicaria a
doença (Guillermo, 1998 e Golse, 1998). A perspicácia da ciência médica
estaria voltada para a compreensão da ordem de fatores, corroborando uma
atitude de cálculo e dedução. Nesta linha de pensamento os distúrbios ou
“desordens” não têm lugar (Foucault, 2001: 103). Portanto, não é para menos
que a equipe médica e de enfermagem do HMON - formadas de acordo com o
modelo acima apontado - apresentem dificuldades para lidar com
acontecimentos que fogem da ordem institucional. As redes internas são, como
já foi demonstrado, compostas de maneira espontânea através de arranjos
improvisados de acordo com a disponibilidade e os anseios por solidariedade
expressos - de maneira explícita ou implícita - pelos pais dos bebês. Seus
circuitos de conectividade são multidirecionais e não unidirecionais, como o de
causa - efeito.
Entretanto, não se pode afirmar que estas tentativas de enquadramento e
de incompreensão do dinamismo intrínseco às redes sociais tenham origem
exclusivamente no exercício prático da racionalidade médica-científica. A
ordem hospitalar é reproduzida cotidianamente por outros agentes - além dos
médicos - que também detém poder dentro do serviço de neonatologia como
os integrantes das equipes de serviço social e de saúde mental. A lógica
assistencial destes profissionais nem sempre se coaduna com as demandas e
formas de aglutinação dos usuários dos seus serviços, como mostraram as
discordâncias em torno dos sentidos atribuídos às reuniões matinais com as
mães dos bebês.
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