Folha de rosto - Arca - Fiocruz

vivencie um sentimento de fracasso e de incompetência por ter colocado no
mundo um filho distante do imaginado durante toda sua vida (Gomes, 2002).
Por conseguinte, o suporte oferecido por parceiros é de extrema
importância como ilustra o depoimento de Fernanda a respeito da ajuda
recebida da parte de uma colega-vizinha: “se não fosse por ela eu já estava
maluca... eu fiquei aqui no hospital, quase entrei em depressão, só chorava
porque ninguém vinha me ver”. Ou seja, o apoio moral oferecido por sua amiga
nesta situação que é limite porque marcada por um paradoxo extremo - ao lado
da vida recém constituída paira a ameaça da morte - é fundamental. A saúde
mental desta mãe entrevistada, assim como a de outros pais, encontra-se
ameaçada como mostra também a fala de Ana: “você está no desespero, aí
vem uma pessoa assim, dá uma palavra amiga, de confiança, faz uma oração,
aí parece que você fica mais tranqüila”.
Em outras palavras, pode-se dizer que tais atitudes diminuem a sensação
de atordoamento comum a todos os pais os quais, ao invés de irem para suas
casas com seus recém nascidos no colo, têm de testemunhar a luta pela vida
dos recém nascidos (Braga e Morsch, 2003). Anos de observação empírica em
UTIN constataram que para os pais dos recém nascidos a UTI neonatal é como
um labirinto cheio de fios e objetos diferentes perante o qual dificilmente se
antevê uma saída, como ilustra este trecho da entrevista de Joana a respeito
do impacto que sentiu ao visitar pela primeira vez seu filho na unidade de
cuidados intensivos:
“fui ver ele, estava todo entubado, mas a
reação quando a gente chega na UTI, porque a
gente não entende nada... aí está aquela
criança assim... super, hiper grave...sabe?
Parece que vai morrer... alguma coisa assim,
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