Folha de rosto - Arca - Fiocruz
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entendido fundamental que existe entre os profissionais e os pais” (Druon,<br />
1999: 42-44).<br />
Muitas das mães dos bebês apresentam dificulda<strong>de</strong>s em permanecer ao<br />
seu lado nos primeiros dias <strong>de</strong> internação. Outras precisam <strong>de</strong> mais tempo<br />
ainda para se aproximar, mostrando que seu tempo não é objetivo, mas sim<br />
subjetivo. Além da mencionada ferida narcísica que por vezes as paralisam, há<br />
o temor da morte como fala Joana a respeito do período em que não aparecia<br />
na UTIN para ficar com seu filho: “não conseguia ficar lá... vinha pra cá<br />
[alojamento], ficava só dormindo, chorando, não comia...só pensava que ele ia<br />
morrer, tão pequeno”. É um sofrimento um tanto quanto silencioso e oculto<br />
principalmente aos ouvidos e aos olhos <strong>de</strong> quem, como é o caso da equipe <strong>de</strong><br />
enfermagem, não tem o costume <strong>de</strong> freqüentar ocasionalmente o alojamento<br />
<strong>de</strong> mães. Entre as enfermeiras e técnicas <strong>de</strong> enfermagem - as quais por vezes<br />
sequer têm tempo e/ou disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abandonar seus postos para circular<br />
por outras <strong>de</strong>pendências da maternida<strong>de</strong> - estas mães que não aparecem na<br />
unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidados intensivos suscitam reações, como ilustra a fala da<br />
enfermeira Graça:<br />
“a queixa maior que eu recebo da minha equipe, <strong>de</strong><br />
auxiliar <strong>de</strong> enfermagem, <strong>de</strong> algumas enfermeiras<br />
também é isso, né, que elas tem <strong>de</strong> ficar como se<br />
fosse mesmo <strong>de</strong> babá, ficar atrás das mães para<br />
po<strong>de</strong>r amamentar, para po<strong>de</strong>r ajudar numa higiene.<br />
Que na cabeça da equipe, no pensamento <strong>de</strong>las,<br />
elas acham que a mãe tem <strong>de</strong> estar ali pra ajudar,<br />
pra dar o banho, pra cuidar do bebê e muitas<br />
vezes...”.<br />
Com isso instala-se uma tendência, <strong>de</strong> acordo com a psicóloga Renata, <strong>de</strong><br />
que certas mães se transformem em objetos <strong>de</strong> um olhar crítico por parte <strong>de</strong><br />
vários profissionais. Aquela que não se encaixa no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> “mãe sofredora”,<br />
apta a permanecer em contrição e quieta ao lado do seu filho, não é vista como<br />
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