Folha de rosto - Arca - Fiocruz

E este parece ser o caso desta mãe que mora perto de suas tias maternas com
seu companheiro com quem convive há menos de dez meses.
E, mais ainda, a fala de Rosa demonstra como que, no Brasil, família é
mais do que uma instituição social na medida em que “constitui também e,
principalmente, um valor” (Da Matta, 1987: 125). Exemplar também é o
depoimento de Joana, surpresa com o apoio recebido por parte de uma
vizinha: “que a pessoa não é nada, não é nada, não é seu sangue...”. A
compreensão ou, melhor, a incompreensão que as mães têm a respeito do
desempenho - aquém do esperado - de parentes consangüíneos vai de
encontro à concepção de que para muitos o “sangue” é um símbolo através do
qual é transmitida uma moral capaz de moldar o caráter (Abreu Filho, 1981).
Por vezes há exceções. São os casos em que as redes de familiares
consangüíneos não apresentam tamanha importância para seus membros e
suas atuações são, de certa forma, inesperadas. O fator decisivo é o
desenvolvimento da história de cada família. Exemplo é o relato de Luiza, outra
mãe entrevistada, a respeito da sua surpresa para com o apoio recebido “até
de uma irmã... até ela” com quem não mais tinha contato. Diz Luisa que
provavelmente esta irmã reaproximou-se porque “minhas outras irmãs foram lá
falar com ela”.
Há uma correspondência direta entre frustração e pressuposição de apoio.
Se o nível de expectativa de ajuda for muito elevado certamente será
expressivo o impacto de sua carência (McLaughlin et al., 2002), o qual incide
sobre o potencial de implosão ou de desmantelamento das redes de suporte
preexistentes à hospitalização dos bebês caso as demandas por apoio não
sejam atendidas por seus pares. Neste sentido depõe Joana:
46