Folha de rosto - Arca - Fiocruz
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como legítimos familiares. Na maioria das vezes estes vizinhos - amigos são<br />
assim agraciados por conta <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> confiança já cristalizadas e<br />
<strong>de</strong>senvolvidas a partir da reciprocida<strong>de</strong> ou da obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar-e-receber.<br />
Por vezes, o parentesco fictício ou <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração é reforçado pelo<br />
compadrio, como ilustra a fala <strong>de</strong> Luisa a respeito <strong>de</strong> uma amiga: “é tipo uma<br />
irmã, eu não sabia que ia po<strong>de</strong>r contar tanto com ela neste ponto, vou dar a ela<br />
pra batizar meu filho”. Ou seja, esta parceira tanto ajudou a mãe do bebê que<br />
<strong>de</strong>la receberá em troca a honra <strong>de</strong> se tornar madrinha do recém nascido. Esta<br />
assertiva vai <strong>de</strong> encontro a estudos que indicam que o compadrio serve para<br />
reforçar vínculos sociais já estabelecidos (Gue<strong>de</strong>s e Lima, 2006). E, mais<br />
ainda, mostra como são relações construídas a partir da troca <strong>de</strong> favores,<br />
especialmente entre populações que não dispõem <strong>de</strong> muitos recursos<br />
materiais, como os pobres urbanos (Lomnitz, 1981). Há uma expectativa <strong>de</strong><br />
protecionismo por <strong>de</strong>ntre aqueles que são compadres (Souza, 1981). Trata-se<br />
<strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> cooperação bilateral (Greenfield, 1980), permeada por um<br />
código <strong>de</strong> direitos e <strong>de</strong>veres entre os pares.<br />
Outrossim, nota-se que está em pauta a concepção <strong>de</strong> família. “Ao<br />
contrário do que se faz crer - inclusive pelo uso do artigo <strong>de</strong>finido - a família<br />
assume uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formas” (Rocha-Coutinho, 2006: 92). Não há “uma<br />
família”, mas sim “vários tipos <strong>de</strong> família” (Velho, 1987: 80) mesmo porque a<br />
“família é um organismo mutável, que transforma e é transformado pela<br />
socieda<strong>de</strong>” (Benincá e Gomes: 1998: 199).<br />
Para os pais dos bebês internados na UTI a noção em uso é a da “família<br />
vivida” (Szymanski, 2003: 26) ou as “formas empíricas <strong>de</strong> família” (Vaitsman,<br />
1999: 67). Sua extensão não se restringe ao núcleo conjugal e supera qualquer<br />
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