Folha de rosto - Arca - Fiocruz

um milhão de coisas passa pela nossa
cabeça... eu nunca vivi este mundo, sabe?”
Daí a alternativa destas mães que estão aturdidas é a de recorrer a quem
freqüentemente funciona como figura de referência em seu cotidiano. Tendem
a apegar-se ao que já lhe era habitual como, por exemplo, conversar com
quem já estavam acostumadas e as quais vêm lhes visitar no HMON. Trata-se
de uma estratégia para diminuir seu estresse diante de uma situação tão
estranha ou incomum em suas vidas.
Entretanto, muitas vezes o apoio moral não se encontra circunscrito aos
limites do hospital. Muitos dos pais entrevistados relatam como são
reconfortantes as conversas engendradas nas portas de suas moradas ou
através de telefonemas que recebem quando chegam em sua casa. Dialogar
sobre o sofrimento, “desabafar” também é muito importante como diz Roberta:
“quanto mais eu falava pra mim era melhor”. Trabalhos oriundos do campo da
psicologia demonstram como a expressão em palavras de sentimentos
dolorosos contribui para sua elaboração e conseqüente assimilação (Cyrulnik,
1999; De Hennezel, 1995).
Contudo, há mães que relutam em ficar conversando porque, como diz
Marli: “quem não está perto não consegue entender”. Esta ponderação por
parte desta mãe aborda uma questão relevante para os cuidadores que
advogam a presença no hospital da rede social significativa, cuja definição -
elaborada por Sluzki (1997) - está no segundo capítulo desta dissertação. Para
os que defendem o comparecimento à instituição hospitalar dos membros das
redes de suporte significativas é imprescindível a presença física na UTI dos
integrantes destas redes. Isto porque só assim a penosa realidade enfrentada
63